sábado, 8 de maio de 2021

REFLEXÃO PARA O VI DOMINGO DA PÁSCOA - Jo 15,9-17:

 


Os capítulos 14 – 16 formam um bloco literário muito importante no Quarto Evangelho, o chamado “testamento de Jesus”. Ele situa-se ao interno do livro da Glória. A finalidade deste conjunto de ditos de Jesus sobre o amor e sobre o dinamismo da entrega da vida em serviço visa a vida da comunidade: trata-se de um manual para que a comunidade dos discípulos – os primeiros destinatários da mensagem – e as futuras gerações cristãs possam viver a fé a vida após a volta de Jesus para o seio do Pai.

O texto proposto pela liturgia deste sexto domingo da páscoa é a continuidade da alegoria da videira, meditado no domingo anterior (Jo 15,1-8). Jo 15,9-17 toca no tema do amor cristão. O amor é o dinamismo da vida que o Espírito de Jesus e do Pai realizam na pessoa e na realidade. Amor que gera uma nova condição relacional entre a humanidade e Deus (amigos; e não mais servos) e a alegria, que é o distintivo do discípulo e da comunidade cristã.

Jesus, na continuidade de seu ensinamento iniciado no discurso da videira, declara: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (v.9). Jesus é amado pelo Pai através do dom do Espírito, a sua mesma força e capacidade de amar. O leitor-discípulo do Quarto Evangelho não pode se esquecer de que este discurso de despedida se dá junto a mesa. Antes, porém, Jesus realiza o gesto que expressa simbolicamente a doação da própria vida, a sua capacidade de amar, lavando os pés dos seus (Jo 13).  Porque o amor não é um sentimento, mas uma atitude: o serviço. Este amor não se transmite através de uma doutrina, mas por meio de gestos que comunicam e geram vida.

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor” (v.10). Jesus fala de “mandamentos” no plural. Mas na narrativa do lava-pés ele mencionou apenas um mandamento, ao qual chama de “novo”. Novo, porque supera em qualidade todos os outros mandamentos da lei de Moisés, e não por ser algo a se acrescentar ao decálogo. Existe um único mandamento: o amor. Quando este é vivido através das atitudes e gestos servidores pelo discípulo ele se torna um mandamento único, que tem a capacidade de superar os demais. Por isso, o amor transformado e vivido na dinâmica do serviço se torna a única garantia de comunhão com Jesus e o Pai. O evangelista trabalha, uma vez mais, com o verbo “permanecer”, o qual indica a capacidade e estabelecer comunhão. Este verbo, como já sabemos, alude à temática da habitação de Deus na história e na realidade. Jesus de Nazaré é a habitação – morada – de Deus definitiva. Aquele que acolhe em dom e resposta o seu mandamento de amor, faz a experiência da comunhão com Deus e se torna sua morada; sua habitação.

“Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (v.11). Jesus insere um ensinamento novo na catequese acerca do amor: a alegria. O distintivo do fiel discípulo é a alegria. Esta, não depende das alternâncias da vida. A alegria provém da capacidade de sentir-se amado, fruto e participante de um projeto de amor do Pai, o qual cuida e protege este projeto. A alegria é a constante expressão daquele que encontrou o verdadeiro sentido da vida. E o sentido da vida que Jesus experimentou pessoalmente e propõem aos seus seguidores e seguidoras consiste exatamente na capacidade de entregá-la por amor, porque nem a morte é capaz de destruir uma vida assim. Por isso, na comunidade onde se vive realmente o amor de Jesus, a alegria está presente porque essa atesta a convicção de que o amor do Ressuscitado está sendo vivido.

No versículo 13, emerge uma temática que perpassará os v.v.14-16. A amizade. “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos”. Jesus inaugura um novo modo de relação com Deus. Ele se serve do contexto da relação mestre-discípulo. Na sua época esta relação acontecia de modo muito distante. O discípulo era servo do seu mestre, e, este, por sua vez, lhe era superior, um patrão. Todavia, a relação com Jesus (e com Deus) não se dá a partir dessa ótica. Ele chama seus discípulos de amigos. Ele não precisa de servos, porque ele mesmo se põe a servir a humanidade. O que ele necessita é de pessoas que como ele e com ele colaborem com este serviço. Mas isso só é possível se o discípulo guarda, no sentido de observar, praticar, realizar o mandamento de Jesus: viver a vida na dinâmica do amor gerador de vida.

“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (v.16). A comunidade dos discípulos não pode ser uma comunidade imóvel. Pelo contrário, ela deve ir. O evangelista usa um verbo que indica movimento a fim de indicar para os discípulos que a comunidade deve viver e frutificar esse amor indo ao encontro dos outros; indo ao encontro daqueles que se encontram excluídos e marginalizados.

O texto de hoje propõe algumas perguntas: como temos vivido nossa relação com Jesus, na condição de servos ou temos ousado viver na condição de amigos? Em nossa vida e em nossa comunidade a alegria tem sido o distintivo de que somos discípulos e comunidade de Jesus? 

Pe. João Paulo Sillio.

Santuário São Judas Tadeu, Avaré / Arquidiocese de Botucatu-SP.


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