sábado, 26 de junho de 2021

REFLEXÃO PARA O XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM - Mc 5,21-43:


 

O evangelho proposto para o décimo terceiro domingo do tempo comum é o texto que concentra dois gestos de poder realizados por Jesus: a cura da mulher hemorrágica e o restabelecimento da filha de Jairo, chefe da sinagoga. Ambos condensados em Mc 5,21-43. O texto é rico e extenso. Por isso propomos a leitura e meditação a partir de versículos específicos.

O leitor-ouvinte do Evangelho segundo Marcos tem diante dos olhos duas figuras femininas. A mulher, no tempo da sociedade de Jesus era marcada pela exclusão. Não tinha voz, nem vez. Era posta na marginalização. Todavia, ao interno da tradição bíblica, a figura da mulher sempre foi tida como símbolo para o povo de Israel. Ora, o evangelista pretende relatar a situação do povo de Israel através das duas figuras femininas. Israel submisso à lei, e que morre, simbolizado pela filha de Jairo; Israel excluído pela lei, e que está morrendo – a mulher enferma do sangue.

O número doze é o ponto comum entre as duas cenas. Este, representa a totalidade de Israel. Doze eram as tribos que formavam o povo de Deus. O evangelista pretende indicar a situação de Israel, mas também todas as pessoas que se encontram nesta situação, uma vez que as personagens não recebem nome. Na Bíblia, quando os autores sagrados apresentam personagens anônimas, a intenção é fazer com que os leitores possam se identificar com elas. Podemos, agora, tomar os versículos que são importantes para a compreensão global do texto bíblico.

Após aproximar-se o chefe da sinagoga, chamado Jairo, o qual apresentou a situação de sua filha, de doze anos, enferma, Jesus se põe a caminho (v.v. 21-24). Marcos gosta de mostrar o mestre num constante movimento, e isso é uma lição para os discípulos. A caminhada com Jesus é sempre um deslocamento; um movimento. Um sair das próprias estruturas humanas e relacionais.

“Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia” (v.25). Marcos apresenta a mulher enferma do fluxo menstrual. Ela é anônima, e, portanto, um convite para que os leitores-discípulos se identifiquem com ela, ou que se sintam representados por ela por estarem na mesma situação de marginalização. Qual a situação em que a mulher se encontra: aquela da crueldade de uma instituição religiosa que diz à pessoa, “você se encontra impura pelo pecado”; a situação da impureza religiosa e, pois, da impossibilidade de purificação. Ora, se a pessoa se encontra impura, e só quem pode retirar a impureza do pecado é Deus, em última análise, então ela deve dirigir-se para Deus. Acontece que essa não era a mentalidade, nem a prática, das lideranças religiosas e da religião do tempo e da sociedade de Jesus. Uma situação dramática: a pessoa encontra-se impura, e, desejando dirigir-se à Deus, não o faz porque não pode devido à impureza.

Conforme o pensamento e costume do judaísmo, o sangue é princípio de vida do ser vivente, e, por isso, sagrado. Somente Deus tem direito sobre ele. A mulher padece doze anos do fluxo menstrual desregulado. Marcos não pretende mostrar somente a condição sanitária pela qual passava a mulher, mas o seu status diante da religiosidade: é impura. Tudo o que ela toca também se torna impuro. Se é solteira, não pode se casar; se casada, não pode coabitar e relacionar-se com o esposo até que fique bem. Estando, inclusive, quem a tocasse, sujeito à pena de morte.

“Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa” (v.27). O evangelista nos informa que a mulher ouviu falar de Jesus. Ele tem em mente a cena da purificação de um leproso realizada pelo mestre, em Mc 1,40. O leproso, que representa, por sua condição, um morto-vivo, foi purificado por Jesus não por conta de seus méritos, mas por conta da necessidade de vida daquele homem. A mulher, igualmente, pensa que também há espaço para ela, e, por isso, encontra um jeito de se aproximar de Jesus e tocar sua roupa. Tenhamos sempre presente toda a carga religiosa que poderia ser imputada a ele por ter sido tocado pela mulher impura. Ficava contaminado pela impureza dela. Sentindo-se tocado, Jesus pergunta aos discípulos quem foi. Eles, ironicamente, respondem que seria impossível saber devido a multidão que os seguia. Os discípulos, mesmo próximos e seguindo a Jesus apresentam uma incapacidade, a de ver a realidade que os rodeia.

“A mulher, cheia de medo e tremendo, percebendo o que lhe havia acontecido, veio e caiu aos pés de Jesus, e contou-lhe toda a verdade. Ele lhe disse: Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença” (v.33-34). A mulher, ao receber o olhar de Jesus, espera ao menos o castigo e a reprovação dele. Mas esta não foi a Sua atitude. Seu olhar e suas palavras foram de ternura. Ele a chama de “filha”. Não esbravejou com ela, nem a rechaçou por tê-lo tocado e feito com que ficasse impuro.

A mulher, do ponto de vista religioso, cometeu um sacrilégio. Mas a resposta de Jesus a libera das consequências. E diz: a tua fé te salvou. Infelizmente a tradução litúrgica usa o verbo curar, quando no original grego se apresenta o verbo salvar. A mulher transgressora da lei – que não gerava mais vida e excluía as pessoas – para Jesus é protótipo da fé. Ele a despede, e não exige que se dirija ao templo apresentar-se à Deus. Para Jesus, é Deus que se apresenta às pessoas, não exigindo nada delas, mas doando-se e oferecendo vida a elas.

No início, Jairo tinha pedido que Jesus fosse impor as mãos sobre a menina (v. 23). Jesus faz mais do que lhe é pedido: “Jesus pegou na mão da menina e disse: “Talitá cum” – que quer dizer: “Menina, levanta-te!” (v. 41). Pegar na mão é mais significativo. A imposição das mãos era um rito bastante comum no judaísmo e nas outras experiências religiosas do antigo Oriente, assimilada e adotada no cristianismo. Pegar na mão é sinal de companheirismo, disponibilidade de caminhar juntos. Porém, neste contexto, é um sinal de transgressão de Jesus, já que o corpo da menina era um suposto cadáver, naquele momento; e quem tocasse num cadáver ficava impuro por sete dias, conforme a Lei (cf. Nm 19,11). Para Jesus, no entanto, nenhum preceito estava acima da sua vontade de transmitir a vida para as pessoas. Segurando na mão da menina, ele ordena que ela se levante, e eis o resultado: “Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados” (v. 42). Ao contrário do acontecido com a mulher hemorroíssa, ele voltou a pedir o silêncio, que constitui um elemento importante para a teologia de Marcos: o chamado “segredo messiânico”, como já foi acenado, e cuja revelação será fruto da Páscoa. Por sinal, este milagre é uma prefiguração da ressurreição do próprio Jesus, quando a vida nova será estendida à humanidade inteira. Eis, então, o último versículo: “Ele recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo daquilo. E mandou dar de comer à menina” (v. 43). A ordem para dar de comer à menina serve para demonstrar a realidade da vida; ela não é um fantasma, mas a filha concreta de Jairo. Inclusive, a refeição também faz parte das aparições de Jesus Ressuscitado, como um meio de confirmação para os discípulos (cf. Lc 24,13-49; Mc 16,14; Jo 20–21) (cf. CORNELIO, F, Reflexão Dominical in. porcausadeumcertoreino.blogspot).

O texto de hoje, ao mesmo tempo em que revela a enfermidade e a situação de morte de Israel, simbolizadas pelas duas personagens femininas, mostra um Jesus que se coloca na contramão de tudo e de todos para poder comunicar a vida em abundância às pessoas. Na cena da mulher hemorroíssa, permite-se ficar impuro para liberá-la da impureza. Na narrativa da filha do chefe da sinagoga, ele adentra na situação de morte, tocando e ficando uma vez mais impuro, para poder comunicar a vida. Aprendamos a estar com o Senhor onde ele se faz presente, juntos dos excluídos e marginalizados.

Pe. João Paulo Sillio.

Santuário São Judas Tadeu, Avaré / Arquidiocese de Botucatu-SP.


sábado, 19 de junho de 2021

REFLEXÃO PARA O XII DOMINGO DO TEMPO COMUM - Mc 4,35-41:

 


A liturgia do décimo segundo domingo do tempo comum propõe a continuidade da leitura e meditação do capítulo quarto do evangelho de Marcos. Terminado o ensino em parábolas, as quais ilustravam o dinamismo do acontecimento do Reino de Deus na história, Jesus toma a decisão de ir para a outra margem do mar da Galileia. De antemão se faz necessário esclarecer que esta passagem, conhecida como a “tempestade acalmada”, na verdade, reflete o ambiente das primeiras comunidades cristãs, bem como a do próprio Marcos. A crise da comunidade dos discípulos ao se dirigirem aos pagãos, aos de fora. O escrito marcano é, por assim dizer, uma catequese destinada a todos. É um evangelho universal. O evangelista tem a preocupação de fazer com que a experiência com Jesus de Nazaré chegue a todos. Isso posto, podemos mergulhar no horizonte do texto bíblico.

“Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: Vamos para a outra margem!” Jesus dá uma ordem aos discípulos para se dirigem para o outro lado do mar. A sua missão se desenvolve na Galileia durante toda a narrativa, até a subida para Jerusalém, no capítulo onze. A Galileia era, no tempo de Jesus, território pagão, e, portanto, desconsiderada pelos judeus do sul. Ir, pois, para o outro lado da margem do lago significaria para os discípulos adentrar ainda mais em território pagão.

Os discípulos despedem a multidão e, com Jesus, direcionam a barca para a outra margem (v.36). O evangelista faz questão de informar, ainda, que existem outras embarcações ao redor deles. A barca, portanto, não era a única. Para Marcos, elas funcionam como símbolo para a comunidade cristã que deve ir sempre mais aos que se encontram fora do projeto amoroso de Deus em Jesus.

Os vv.37-39 narram a tempestade que assalta a barca e que põe medo nos discípulos. Ao mesmo tempo que mostra um contraste entre eles e Jesus. Marcos faz questão de anotar que o “mestre” está dormindo sobre um travesseiro, na popa da embarcação. Até que é acordado pelos discípulos. Eles o chamam de “mestre”. O evangelista tem uma fina ironia ao relatar isso. Ele pretende informar aos seus leitores-discípulos que mesmo convivendo com Jesus, na condição de mestre, os doze ainda apresentam dificuldades em compreender o que Jesus faz, vive e ensina. Por isso, a bronca dos discípulos “Não te importas que pereçamos?”. Os discípulos apresentam a atitude e a qualidade contrárias ao ensinamento e ao projeto de Jesus, o medo. O medo é, na tradição bíblica, o contrário da fé.

O sentido de fé, na Bíblia, é a constância e firmeza com que se confia em quem o merece (em hebraico emet = fidelidade, firmeza). Em primeiro lugar, em Deus. No evangelho de Marcos, significa essencialmente a firme confiança em Deus e em Jesus, seu enviado. Assim, na catequese marcana, o primeiro sentido de fé é o crer no evangelho (1,15); a confiança no anúncio da chegada do Reino e naquele que o anuncia. Um segundo sentido corriqueiro em Mc é a confiança nas obras de poder que respaldam o anúncio da boa-nova e inauguram a realidade do Reino. Esta é a fé em milagres, como atitude de abertura para o Reino. Para se deixar invadir por esta fé é preciso converter-se, mudar de mentalidade.

Por isso, o que o evangelista descreve a seguir é fascinante. Notemos que ele põe um certo ritmo na cena: a tempestade está “de pé”, os discípulos estão amedrontados, e Jesus, deitado; Jesus se levanta, e ordena que o mar e o vento se calem e silenciem, e, imediatamente, a tempestade é “deitada” por Jesus, que está em pé. Marcos utiliza aqui as mesmas ordens que Jesus já dera aos espíritos maus anteriormente: “cala-te; silêncio” (gr. σιωπάω / siopáo; φιμόω / fimóo).

Os discípulos passam do medo ao temor. Porque na tradição de Israel, quem tem poder sobre as forças da natureza, os ventos, e, domina sobre o mar é Deus. Marcos descreve, portanto, uma teofania para revelar aos seus discípulos a identidade de Jesus. Deus está nele. Ele é o Seu plenipotenciário e encarregado de inaugurar o Seu agir nesta história. Mas os discípulos ainda apresentam resistência e incompreensão. Questionam-se acerca da identidade de Jesus, “Quem é este que até o vento e o mar obedecem?”. Esta pergunta – Quem é Jesus? – percorrerá todo o evangelho e só será respondida no capítulo quinze, através do testemunho do centurião romano (Mc 15,19). Um pagão.

Aqui se encontra o significado desta tempestade que assola a barca dos discípulos. Ela é, na verdade, um símbolo e uma metáfora para o temperamento e o estado de ânimo deles. Eles não querem ir aos pagãos. Eles se encontram resistentes em ir ao encontro dos que estão fora. Os discípulos não querem saber disso. Pensam que somente Israel é o fiel depositário da benção e da salvação de Deus.

A tempestade é uma metáfora para os sentimentos dos discípulos, a arrogância e superioridade que nutriam frente aos pagãos; os de fora. Para eles, estes devem ser dominados e não acolhidos e servidos. Por isso, essa tempestade não incomoda a Jesus, porque é desejo e programa de vida dele ir além, e fazer com que o Reino chegue a todos. Ele não participa da tempestade dos discípulos, e por isso a exorciza, a expulsa do meio deles.

Permitamos que o Senhor, sempre presente na barca de nossa vida, acalme e exorcize nossas tempestades. Toda e qualquer resistência ao seu projeto de vida e amor. E que nos coloquemos com ele na direção daqueles que se encontram fora; dos excluídos e marginalizados.

 

Pe. João Paulo Sillio.

Pároco do Santuário São Judas Tadeu, Avaré / Arquidiocese de Botucatu-SP.


sábado, 12 de junho de 2021

REFLEXÃO PARA O XI DOMINGO DO TEMPO COMUM - Mc 4,26-34:


 

O capítulo quarto do evangelho de Marcos apresenta um ensinamento em parábolas de Jesus. A parábola é um gênero literário e, também, uma maneira pedagógica de ensinar. Deriva do Mashal, pertencente ao ensinamento sapiencial (livros sapienciais da bíblia hebraica, meshalim) do tempo de Jesus.

As parábolas recolhem exemplos do ambiente cotidiano da sociedade, através de uma linguagem simbólica e simples, que todos conhecem, e levam os leitores e ouvintes a descobrirem o que ainda não sabem. Não se trata de uma linguagem matematicamente exata, mas sugestiva. De elementos simples, as parábolas carregam consigo elementos “exagerados” que visam chamar a atenção do leitor ou ouvinte, a fim de provocá-los, deixando-os com “a pulga atrás da orelha”, de modo a fazer-lhes “cair a ficha”. O ensinamento de Jesus é sapiencial, assim como o modo de sua existência. Ele bebeu da sabedoria de seu povo. Seu modo de falar era sapiencial e seu modo de agir, profético. Ele usa do gênero das parábolas para ensinar, provocar seus ouvintes, e chamar lhes a uma decisão.

O texto litúrgico deste domingo é situado na parte final do ensino em parábola sobre o acontecimento dinâmico do Reino. Para falar desta realidade, Jesus usa, preferivelmente, as imagens agrícolas ou relacionadas a natureza, com seus processos vitais de crescimento, desenvolvimento e maturação.

Em 4,26, o evangelista recupera as palavras de Jesus: “o Reino de Deus é como um homem que lança a semente na terra”. O Reino (ou Reinado) de Deus é a atuação mesma de Deus na história, na realidade, através de Jesus de Nazaré. Aqueles que aderiram a sua pessoa e a sua mensagem deverão sempre, e, constantemente, comprometer e engajar-se na construção e manutenção de uma realidade, sociedade e história alternativas à realidade presente. Deverão assumir o modo de vida de Jesus de Nazaré.

“É como um homem que lança a semente sobre a terra”. Jesus, no início do capítulo, falara de uma semente, a qual torna-se termo de comparação, e, portanto, metáfora para a sua Palavra que traz consigo o acontecimento do Reino. De acordo com a parábola, aquela semente fora lançada em quatro terrenos, sendo que nos três primeiros elas não deram fruto. Símbolo da falência (aparente) do projeto. Mas no quarto terreno (ou “num único terreno”), a semente frutifica imensamente (trinta – sessenta – cem frutos). O evangelista pretende, através deste ensino de Jesus, ilustrar o que acontece com o homem que entrou em contato com a Palavra (mensagem e projeto de vida) de Jesus: ele libera toda a sua potencialidade de vida.

Quer durma, quer esteja acordado; quer de dia ou de noite, aquela semente lançada na terra germina e cresce, sem, no entanto, saber como isso acontece. A assimilação da mensagem de Jesus é um processo interno e pessoal, no qual ninguém pode intervir. 

Jesus acrescenta, em seguida, que a terra, espontânea e processualmente produz os frutos: primeiro aparecem as folhas, as espigas e, por fim, os grãos. Note-se que é o mesmo processo gradual que ocorreu com o terreno bom da parábola anterior: produziu trinta, sessenta, cem. Marcos quer acenar para a realidade que acontece com o homem: aquele que entrou em contato com a Mensagem-Palavra de Jesus libera plenamente suas potencialidades.

“Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”, Jesus serve-se de um momento de extrema importância e de grande alegria para o povo, no contexto agrícola em que viviam: a colheita. Neste acontecimento, chamavam-se os vizinhos, parentes e amigos para colaborar com a colheita, que na verdade é o momento da “entrega” do fruto. O evangelista alude, com isso, a entrega em amor de Jesus. Por isso, a colheita-Entrega (do fruto) é um momento de plenitude e de vida.

Em seguida, Jesus interroga os ouvintes: “com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo?” (v.31). Por exemplo, o profeta Ezequiel estabelecia a comparação servindo-se da imagem do cedro (arvore frondosa e majestosa) sobre o monte altíssimo; algo de extraordinário, que mesmo à distância chama a atenção dos que o veem. No entanto, Jesus extrapola e não usa de algo tão grandioso. Pelo contrário, “O reino de Deus”, em seu momento de máximo desenvolvimento e pleno esplendor assume a realidade (e imagem) modesta, e, mesmo assim, eficaz, do grão de mostarda. Uma semente minúscula, que, comparada às demais, não chama a atenção. É simples!

Todavia, com profunda ironia, Jesus informa que, “apenas semeada, cresce e se torna a maior entre todas as hortaliças” (v.32). Aqui reside o elemento surpresa – ou extraordinário – do ensino parabólico: na horta da casa, no lugar simples e pequeno, e não na alta montanha, que o arbusto da hortaliça da mostarda, que simboliza o Reino de Deus pode florescer.  Um arbusto insignificante, que não brilha, nem chama a atenção é símbolo do acontecimento do Reinado de Deus na História.

No v. 34, o evangelista informa que “Jesus anunciava a Palavra usando parábolas conforme compreendiam. E só lhes falava por meio de parábolas, e à sós com os discípulos, as explicava”. Ora, a vida de Jesus é parábola para o acontecimento do Reinado de Deus; sua vida é semelhante a semente que “foi entregue – colhida”, e só aquele que compreende a vida dele como entrega em amor, poderá compreender a sua mensagem-Palavra de vida. Somente o gesto da vida doada-em-amor torna possível compreender o Reino e a Palavra de Deus em Jesus. “A sós com os discípulos, as explicava”: aos discípulos, ele fala claramente porque deve instruí-los, para que eles deem testemunho e ensinem aos outros os mistérios do acontecimento do Reino de Deus. Quanto mais se doam aos outros mais se vive em sintonia com o amor e mais se compreende a Palavra. Esta Palavra, quando mais e melhor se compreende mais ela cria raízes no homem e o transforma.

O Reino não cresce em meio a espetáculos, em meio a grandiosidade e ostentação. Não cresce imbuído da mentalidade (da tentação) do sucesso, do êxito, da quantidade. Essa mentalidade não corresponde ao Reino de Deus e à Palavra de Jesus. Espetáculo, grandiosidade, quantidade, sucesso, prosperidades são as mentalidades e valores do anti-Reino, e não corresponde com a vida vivida por Jesus de Nazaré. Quem espera, concebe e apregoa um “reino” nesses moldes, não está anunciando o Evangelho de Jesus, mas se auto-anunciando. Quando colocamos a nós mesmos, os nossos projetos, nossos gostinhos à frente do Reino (Reinado) de Deus, estamos substituindo-o por nós ou pela mentalidade do mundo. 

O anúncio do Reino segue a dinâmica vivida por Jesus. Por isso, 1) Que decisão tomamos diante do anúncio de Jesus? 2) Que imagem de Reino está em meu imaginário? 3) Estou em que grupo: o grupo dos que só entendem parábolas, ou no grupo com o qual Jesus fala abertamente?

Pe. João Paulo Sillio.

Santuário São Judas Tadeu, Avaré / Arquidiocese de Botucatu-SP.

sábado, 5 de junho de 2021

REFLEXÃO PARA O X DOMINGO DO TEMPO COMUM - Mc 3,20-35

 


A liturgia retoma o ciclo litúrgico do tempo comum. E propõe para a nossa meditação o capítulo terceiro do evangelho de Marcos. O capítulo inicia-se com um sumário que narra a atividade de Jesus com as multidões às margens do lago. Em seguida, dos v.v.13-19, o evangelista apresenta Jesus escolhendo e constituindo o grupo dos doze discípulos. Por fim, a narrativa de hoje, a qual conclui o capítulo (Mc 3,20-35).

O evangelista informa que Jesus voltou para a casa (em Cafarnaum; casa de Pedro ou do próprio Jesus?), junto com seus discípulos (v.20-21). Novamente, a multidão acorre até lá. É importante recordar que a casa é, no Evangelho de Marcos, símbolo e local da reunião da comunidade Cristã. É o lugar privilegiado de onde Jesus transmite o ensino para a comunidade dos discípulos. Superando, assim, os espaços judaicos da sinagoga e do templo. Talvez Marcos esteja retratando o próprio período da vida da comunidade, nos anos 65-70 d.C, em Roma.

O evangelista faz questão de informar que, os parentes (os da casa) de Jesus, ficam sabendo do que ele estava fazendo, e tomam a decisão de trazê-lo de volta para a casa (clã) deles, em Nazaré, porque pensavam que ele estava fora de si (v.22). Interessante este contraste que o evangelista estabelece entre a casa em que Jesus se reúne e os de sua própria casa, que, na verdade, são seus parentes. Eles se sentem incomodados com as atitudes de Jesus, e, naturalmente, sentem medo de que Ele pudesse constranger a sua família de sangue, mediante suas atitudes.

O que causa a estranheza da parentela de Jesus? Evidentemente, na sequência narrativa do texto de Marcos, até o momento, as atitudes que despertaram o medo dos familiares de Jesus foram as que ele vinha realizando: o ensino que transmitia e o modo de vida que levava; sua Autoridade diante da lei e das tradições religiosas; o fato de perdoar pecados e curar enfermidades (Mc 1,14-45). Com base nestas atitude de Jesus, podemos entender a preocupação dos da casa de Nazaré. “Ele está indo com paus e pedras para cima de tudo o que nós acreditamos”, poderiam pensar (ainda que equivocadamente). “Ele só pode estar fora de si! Devemos busca-lo e traze-lo de volta, antes que nos envergonhe!” O texto não informa que estes seriam os seus pensamentos, mas é plausível que seja este o medo subjacente: faze-los passar vergonha diante da sociedade, por estar fora de si.

Marcos insere, em seguida, novos personagens (v.23). Os fariseus, que descem de Jerusalém (centro de seus estudos) para a Galileia expressam outro sentimento mais agudo, em relação a Jesus, seu ensinamento e sua conduta de vida: “ele só pode realizar tudo isso, por estar possuído por Baalzebu, e expulsa os demônios” por meio deste ser mítico.

Baalzebu era uma divindade pertencente a religião dos filisteus e dos cananeus, que encontrou espaço no imaginário religioso do povo de Israel, quando das redações da Bíblia no período do pós-exílio babilônico, mas que já figurava no panteão das religiões vizinhas ao povo de Israel. No entanto, é muito importante ter presente que, o acento do evangelista é colocado na atitude de rejeição das autoridades judaicas, e não na figura mítica de um (senhor das moscas / baal zevu = Belzebu). Os fariseus rejeitam a atuação de Jesus, e, consequentemente, rejeitam que Deus possa agir através dele.

Jesus lhes responde através de uma parábola acerca do reino maligno dividido (vv.23-27). E, em seguida, acrescenta outra, fazendo uso da imagem de um forte, dono de casa, que é surpreendido por um valente mais forte que aquele. O Valente e mais forte é o próprio Jesus, que se serve de imagens do Antigo Testamento (a do valente de Deus, o forte guerreiro de Is 42; 49,24.25) para visibilizar que, através dele (de seus gestos e palavras) a vitória de Deus se faz presente no mundo. Jesus é o “mais forte” de que falava João (Mc 1,7).

Então, Jesus desfere contra os fariseus: “Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados,  como qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno (v. 28-29)”. Como entender estes ditos de Jesus? Ele se refere a irremissibilidade do pecado? A expressão grega “αἰωνίου ἁμαρτήματος / aioníou hamartímatos” traduz a expressão hebraica “hattá ôlam”(pecado eterno). Mas esta expressão não deve ser entendida como a recusa do perdão. Ela acena, na verdade, para a qualidade do pecado cometido; a profundidade da ação realizada, e não à quantificação temporal (eterno). Na tradição judaica, o “hattá ôlam” não pode ser expiado pelas práticas de expiação prescritas pela lei (sacrifícios etc.), ficando a pessoa entregue à misericórdia de Deus. O que Jesus quer ensinar é o seguinte: aqueles que dizem que “ele está com um espírito impuro”, na verdade negam, de forma contundente, a presença de Deus (e seu Espírito) em Jesus. Este dito é uma denúncia de Jesus diante da recusa das autoridades.

A sua família finalmente chega em Cafarnaum, mas não consegue ter com ele. Avisado sobre a chegada de sua mãe e seus irmãos, Jesus interroga os que lhe avisavam: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” (v.31). À pergunta de Jesus, o evangelista acrescenta um movimento interessante, informando que Jesus lançava um olhar para a multidão e para os discípulos que o escutavam, enquanto acrescenta: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (vv.33-35). Para mostrar que, no Reino, o parentesco natural, (algo tão importante na sociedade oriental), já não tem peso em comparação com o parentesco dos que, cumprindo a vontade de Deus, são filhos de Deus e irmãos entre si.

Entendamos: Jesus supera os laços e vínculos sanguíneos, mas não os rejeita! Ao passo que os seus, de sua casa, o rejeitavam, e, de um modo mais sutil e brando que o dos fariseus, não reconheciam que Jesus agia pelo Espírito de Deus. Não reconheciam que Em Jesus, a novidade de Deus se fazia presente: todos podem escutar as Palavras de Deus e Dele se tornarem discípulos, colocando-as em prática. 

O evangelho deste décimo domingo do tempo comum apresenta-nos a rejeição de Jesus por parte de seus familiares e por parte dos líderes de sua gente. Um Jesus rejeitado, que, em contrapartida, não rejeita a ninguém. Supera os laços familiares do sangue e do clã. Propõe uma forma de vida para tornar-se participante da família de Deus: ouvir a Sua Palavra e colocá-la em prática. A nova família de Jesus é composta daqueles e daquelas que aderem à novidade de Deus mesmo agindo através de Jesus. Não se pode esquecer que esta família recém-inaugurada por Jesus não é uma “família perfeita”. Os perfeitinhos, pelo contrário, estão de fora e se recusam a tomar parte do projeto de Deus que se visibiliza em Jesus. São os fariseus, escribas, saduceus – a elite religiosa do povo – que se acham já justificados por observarem a lei. A família de Jesus, que tem por critério reunir-se ao redor da Palavra de Deus é composta pelos imperfeitos, pelos vulneráveis, pelos descartáveis; por todos aqueles que não tem voz e nem vez. Por todos nós, necessitados de conversão.

De qual grupo temos feito parte? No das autoridades do povo que rejeito o modo de vida de Jesus? No da sua família, que se envergonha dele? Ou da sua nova família? O “ouvir a Palavra e coloca-la em prática” tem sido nosso distintivo enquanto discípulos e como comunidade de Jesus?

 

Pe. João Paulo Sillio

Santuário São Judas Tadeu, Avaré / Arquidiocese de Botucatu-SP


quinta-feira, 3 de junho de 2021

REFLEXÃO PARA A SOLENIDADE DO CORPO E DO SANGUE DO SENHOR - Mc 14,12-16.22.26:

 


Ao celebrar a Eucaristia, a Igreja faz memória atualizadora da Paixão (vida), Morte e Ressurreição do Senhor. Ao mesmo tempo, ela celebra sua própria natureza e essência, a de ser eucaristizada (ou transubistanciada), através do Corpo e do Sangue de Jesus, em Seu próprio corpo eclesial, e, portanto, real. Por isso, a Igreja vive da Eucaristia, e a Eucaristia faz a Igreja!

O evangelho de hoje é tomado da narrativa da ceia do Senhor, na catequese de Marcos. A ceia celebrada por Jesus, de acordo com a cronologia apresentada pelos evangelhos sinóticos (Mt, Mc e Lc), é uma ceia pascal. Diferentemente do Quarto Evangelho, o qual apresenta uma ceia de despedida às vésperas da pascoa. Todavia, as quatro narrativas da ceia inserem-se no horizonte da morte e ressurreição de Jesus, de seu Mistério Pascal. É sob este pano de fundo que estes relatos da ceia devem ser lidos: o sentido da vida levada até o fim.

A narrativa de hoje nos informa, num primeiro momento, que os discípulos, no primeiro dia dos ázimos, quando se imolavam os cordeiros no templo, se preocupam com local para realização da ceia pascal (v.12). A resposta de Jesus aos discípulos acena para uma novidade apresentada ao longo de todo o evangelho de Marcos: ele ordena que os discípulos se dirijam à cidade, onde encontrarão um homem que lhes cederá de sua casa para celebrar a páscoa (v.13-16). A casa representa muito no evangelho de Marcos, pois ela contrasta com o templo e as sinagogas do judaísmo da época. A comunidade dos discípulos não se reúne mais em meio as instituições judaicas, consideradas antigas e superáveis, mas nas casas. Tornando-se, assim, o lugar privilegiado do encontro da comunidade para fazer a memória do ressuscitado, na experiência pós-pascal, mas também assinalar a superação dos sistemas antigos e apontar para realidade nova apresentada por Jesus.

Importam, para nós, agora, os ditos de Jesus sobre o pão e sobre o cálice. No contexto da ceia pascal existiam sinais que os ajudavam a celebrar a libertação da casa da escravidão: o cordeiro pascal, o pão, o vinho, as ervas amargas. No entanto, os símbolos centrais eram o cordeiro pascal, o pão e o vinho. Os rabinos comentam que, ao interno da ceia, durante a benção dos pães e dos cálices com vinho, aos dirigentes, eram lhes permitidos fazer algum comentário (catequético) sobre aqueles símbolos. Jesus faz a mesma coisa com o pão e com vinho. Todavia, as palavras de Jesus sobre o pão, e, depois, sobre o vinho, não são um simples comentário. São as interpretações do sentido que ele dará à sua vida nas horas seguintes.

Durante a refeição, Jesus toma o pão, abençoa, reparte e distribui aos discípulos dizendo: “tomai, isto é o meu corpo”. Em seguida, toma o cálice com vinho, pronuncia a ação de graças e o distribui aos discípulos, que bebem dele. Depois, Jesus diz: “este é o meu sangue da (nova) Aliança derramado em favor de muitos” (v.22-24). Na ceia, Jesus faz do Pão e do Vinho os sinais de sua vida doada, ou seja, de seu corpo e sangue. No símbolo do pão repartido e despedaçado (que, em última análise, é fruto do grão de trigo pisado, triturado (morto)), Jesus interpreta, profeticamente, o que acontecerá com ele na cruz. O Pão é o Corpo de Jesus. O Corpo, para o povo bíblico, simbolizava a pessoa em sua totalidade e história existencial.

No símbolo do vinho, igualmente, Jesus vê o sentido de sua vida. Assim como a uva é pisoteada, sangrada e destruída para produzir o vinho, a vida de Jesus terá o mesmo fim. É interpretado como o sangue da Aliança (cf. Ex 24,8): o vinho evoca o sangue pelo qual Moisés firmou a aliança com Deus.

Sangue da Aliança ou Sangue da Nova Aliança? Em Mc, 14,24, a versão mais divulgada, e que chega até nós, se lê “nova Aliança” e não simplesmente Aliança, como nos manuscritos mais antigos. Todavia, não se trata de uma nova aliança no sentido de outra, mas de um modo novo de participação na Aliança de sempre. Trata-se do modo e da forma assumida e vivida por Jesus: suas ações, opções, escolhas. O jeito da sua vida!

Jesus conclui a catequese a respeito de sua vida da seguinte maneira: “Não voltarei a beber o fruto da vinha até o dia em que o beber, novo (não novamente!), no Reino de Deus”. Marcos quer ensinar para sua comunidade que a morte de Jesus sela o tempo deste mundo, e que o reencontro será o banquete do Reino plenamente realizado no mundo renovado.

Este evangelho nos ajuda, e muito, a rezarmos a solenidade de hoje. Vejamos. O que significa comungar? Fazer comunhão. Estabelecer uma relação com algo ou alguém. Comungar do Corpo e do Sangue de Jesus significa tomar parte, de modo relacional, de Sua vida (sangue) e de sua Pessoa (corpo). É o que a Igreja reza através da Oração Eucarística, quando pede para ser eucaristizada no corpo e no sangue do Senhor, mediante as espécies sacramentais, pelo Espírito.

Comungar do Corpo e do Sangue do Senhor significa tomar parte de sua vida, de suas opções, de suas atitudes e gestos. Implica em tornar-se os olhos, os ouvidos, o Coração, as mãos e os pés de Jesus de Nazaré, hoje, para santificar o mundo. Por isso, cada um deve examinar-se muito bem antes tomar parte da vida de seu Senhor. De nada adianta que eu me aproxime do altar do Senhor (Palavra e Sacrifício) se não passa pela minha consciência que ao comungar de seu Corpo eu Sangue eu sou eucaristizado N’Ele.

A finalidade da Eucaristia é a de fazer de nós, enquanto Igreja (comunidade dos discípulos do Senhor), o Seu próprio Corpo, não parece claro. Pois constantemente ouvimos e vemos os bons cristãos católicos, que, quase diariamente comungam, reproduzindo em suas vidas atitudes, convicções, sentimentos e práticas que são incoerentes com o Evangelho. Não estou falando de moralismos. Refiro-me às tantas ideias, atitudes e sistemas de morte que muitos bons cristãos e cidadãos de bem vem assumindo, em oposição ao projeto de Jesus.

A Eucaristia não ensina capitalizar, antes, partilhar e colocar tudo em comum. Não é um prêmio para os fortes, mas remédio para os fracos. Não é símbolo de domínio, opressão e submissão, mas sacramento profético de uma vida entregue até as últimas consequências em amor e serviço para todos. A eucaristia não deve reproduzir os sistemas e a lógica do mundo, mas transubstanciá-lo (ou melhor, eucaristiza-lo), do mesmo modo que o amor de Jesus transformou o escândalo de sua morte em dom e serviço à humanidade.

Para concluir esta meditação, tomo emprestada a reflexão do jesuíta, Pe. Geraldo De Mori SJ, meu ex-professor, em seu artigo sobre a Solenidade de hoje. “A solenidade de Corpus Christi deve traduzir-se em solidariedade, sobretudo para com os que passam fome e qualquer outra privação nestes tempos tão difíceis. Mas também é importante deixar-se impactar pelo mistério “escondido” e exposto no “ostensório”, não porque nele se encontre algo de mágico ou milagroso, mas porque neste mistério revela-se que o sublime assumiu a abissal humilhação daqueles que são submetidos à servidão, à injustiça, ao sofrimento, e que somente uma vida capaz de despossuir-se por amor – Jesus – é igualmente capaz de fazer emergir uma vida eucarística no mundo”.

Que o comungar se torne a decisão por uma vida Crístificada. Eucaristiza-te!


Pe. João Paulo Sillio. 

Santuário São Judas Tadeu, Avaré/Arquidiocese de Botucatu-SP.