sábado, 27 de abril de 2019

HOMILIA PARA O II DOMINGO DA PÁSCOA – Jo 20,19-31.




A experiência com o Ressuscitado acontece em seu mais profundo sentido, segundo o relato que somos hoje convidados a meditar na liturgia do segundo domingo da páscoa. Estamos ainda no capítulo vigésimo do Quarto Evangelho. Mas numa dimensão cronológica diferente daquela do Domingo de Páscoa. Não estamos mais no horizonte daquela “madrugada, quando ainda estava escuro”, mas no entardecer daquele Primeiro Dia. No entanto, é necessário recordar alguns elementos do texto da liturgia do domingo passado, do qual o texto de hoje é continuidade.

O evangelista apresentava a comunidade de discípulos e discípulas completamente desnorteada, não apenas porque o Senhor e mestre fora morto, mas porque até mesmo o seu cadáver parecia ter sido roubado (cf. Jo 20,1-3). Naquela ocasião, o catequista acenava para os sinais de uma nova criação; um mundo em gestação, embora ainda envolto no caos, simbolizado pelo escuro da madrugada (cf. Jo 20,1).  Recordemos os Três personagens que protagonizaram aquele relato: Maria Madalena, Pedro e o Discípulo Amado; ambos fizeram a constatação do sepulcro vazio, mas somente um deles interpretou a ausência do corpo do sepulcro como sinal da ressurreição e acreditou, o Discípulo Amado (cf. Jo 20,8). Eles representam, portanto, a comunidade.

João situa o leitor no tempo e no espaço, “Ao anoitecer daquele mesmo dia (v.19)”. A narrativa insere-se na cronologia das cenas anteriores. O primeiro dia. Note-se, no entanto, que já não é mais a manhã do primeiro dia, após o sábado, como foi descrito no começo da seção. Aquele indicativo temporal servia de indicio de que a comunidade dos discípulos ainda não havia conseguido desvencilhar-se dos costumes judaicos do repouso sabático e da Lei mosaica, e, portanto, não desfrutava da realidade da ressurreição. A partir deste novo indicativo temporal (ao anoitecer ou “ao entardecer”), João dá mostras de que a comunidade está despertando de seu sono de morte. Está fazendo, processualmente, a experiência da ressurreição. Sinal, também, de que ela já estava dedicando aquele “primeiro dia” para celebrar a Memória do Senhor Ressuscitado. Quanto ao espaço, já não se situa no sepulcro, mas no espaço da própria comunidade. Sinal de que ela venceu o sepulcro (cf. KONINGS, 2005, p. 354).

No entanto, o evangelista menciona o estado em que se encontrava aquela comunidade. Encontravam-se fechados, com medo dos Judeus. Embora se recompondo, essa comunidade continua em crise, o que se evidencia pela situação de medo informada pelo evangelista. Medo amplamente experimentado pela comunidade joanéia (7,13; 9,22; 12,42), hostilizada pela sinagoga e pelo mundo. Ora, esse tema do “medo” evoca a situação da comunidade joanina em relação à sinagoga (9,22), naqueles anos 90. A aparição de 20,19-23 é uma mensagem de reconforto para a comunidade do fim do século I (e de todos os tempos), uma vez que estamos na dinâmica da “fusão dos horizontes” (cf. KONINGS, 2005, p. 354)”. É típico de João usar o termo “judeus” ao referir-se às autoridades.

Na Teologia Bíblica, o Medo é sempre contrário à Fé. Esta condição amedrontada acaba sendo incompatível com o desenlace da trajetória de Jesus (cf. 16,33). O medo preocupa, impede a missão; fruto da angústia, da desilusão e do remorso de alguns. Acena também, para a ausência do Senhor. Sem a presença do Ressuscitado toda a comunidade perece e sua mensagem é bloqueada; as portas fechadas impedem a boa nova de ecoar (CORNÉLIO, F. Homilia Dominical in porcausadeumcertoreino.blogspot.com).


O discípulo deve superar este medo e abrir-se à fé; só assim toma-se disponível para o dom da paz e da alegria, os dois dons que Jesus tinha prometido aos seus no seu discurso de testamento. A paz de Cristo é o contrário do medo (14,27; 16,33). A paz e a alegria são o dom do Cristo ressuscitado (v. 20-21), mas são também condição para reconhecê-lo (MAGGIONI, 1998, p. 484).

Aconteceu, então, que Jesus põe-se no meio deles. Importante informação dada pelo evangelista, pois ela indica que na comunidade do ressuscitado (e na comunidade joanina) não existe supremacia nem relações piramidais. Ela é uma comunidade igualitária e livre, tendo um único centro. Na Memória do Ressuscitado celebrada pela comunidade ninguém é maior e todos estão referenciados – numa circularidade – ao Senhor ressuscitado. Para uma comunidade viver realmente os propósitos do Evangelho é necessário, antes de tudo, que ao centro do seu existir esteja o Ressuscitado. Encontrando-se com os discípulos (no meio deles), o Ressuscitado opera neles o processo de transformação, oferecendo o primeiro antídoto ao medo: o dom da paz! É o encontro com a paz de Jesus que levanta o ânimo da comunidade fracassada (CORNÉLIO, F. Homilia Dominical in porcausadeumcertoreino.blogspot.com).

Jesus lhes comunica a Paz, informa o evangelista. “A paz esteja convosco (gr. ειρήνη υμιν: Eiréne ymín)”. À primeira vista, isso parece a saudação comum do ambiente bíblico. Mas a repetição por mais duas vezes acena para algo mais profundo. Ela possui conotações de manifestação da realidade divina. A Paz, no ambiente bíblico, alude à plenitude da Benção (ou garantia) dos bens no tempo do Messias. O Shalom (Paz) bíblico remete ao ambiente dos sacrifícios cultuais (Shelamim), cujo o pagamento (o Shalom) que o povo recebe em virtude daquele sacrifício é a Paz.  Aqui, parece implicar também a realização das promessas anunciadas por Jesus na hora da despedida: os seus haviam de revê-lo (14,19; 16,16s) com alegria (16,21s.24; cf. 15,11), e ele lhes daria a sua paz (14,27). A paz e a alegria contrastam com o medo mencionado no início (cf. KONINGS, 2005, p. 355).



O Jesus joanino, ao desejar a Paz (hbr. Shalom) pretende ensinar que através do Dom de sua vida vivida, em amor até o fim, tudo encontra-se “pago”, “quitado”. As promessas feitas encontram-se cumpridas, ninguém deve mais nada!

Jesus mostra-lhes, então, as mãos e o lado marcados e feridos pelos pregos e pela lança. É intenção de João mostrar a continuidade entre Jesus Crucificado e Ressuscitado. Sua condição ressuscitada traz as marcas de sua Paixão.  A cruz não foi o fim. Essa atitude de Jesus leva os discípulos à restituição da fé, uma vez que o principal motivo da desilusão e decepção deles foi o escândalo de um messias crucificado. Ora, a cruz não foi um acidente na vida de Jesus, e não pode ser esquecida pela comunidade; pelo contrário, foi consequência de suas opções e do seu jeito de viver, e as opções da comunidade devem ser as mesmas. Portanto, é necessário que os discípulos estejam sempre, em todos os momentos da história, familiarizados com a cruz, não como símbolo ou adorno, mas como disposição de dar a vida por amor, como fez Jesus.  Mais do que estigmas, as mãos e o lado aqui são os sinais da identidade de Jesus de Nazaré que continuam no Cristo Ressuscitado, porque é a mesma pessoa. E os principais traços característicos da identidade de Jesus são o serviço e o amor. As mãos são sinais do serviço, e o lado é sinal do amor, pois representa o coração (CORNÉLIO, F. Homilia Dominical in porcausadeumcertoreino.blogspot.com).

Estando Jesus ao centro, novamente ele diz “A paz esteja convosco” e os envia em Missão. “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. A missão de Jesus estava fundamentada na incumbência do Pai; a deles, na incumbência de Jesus, que constitui com o Pai uma unidade. Aqui no v. 21 encontramos três termos importantes: os verbos apostellein e pempein (enviar) e a conjunção kathôs (como). Esta conjunção exprime semelhança e causalidade: a missão dos discípulos é a continuação daquela que Jesus recebeu do Pai e encontra nela seu modelo e origem (MAGGIONI, 1998, p.485).

Como a ressurreição de Jesus é uma ressignificação na vida da Comunidade dos discípulos, ao enviá-los, ele sopra sobre eles o seu Espírito. O gesto de soprar recorda a narrativa da criação em Gn 2,7, onde Deus sopra nas narinas do vivente seu sopro de vida. O Gesto de Jesus remete à Criação, e por isso, na Ressurreição de Jesus acontece uma nova Criação. Ao receber o Espírito Santo, a comunidade se torna também comunicadora dessa força de vida. Não é um simples carisma que recebem, algo que vem acrescentar-se à sua vida. É sopro divino, vida nova que recebem. É uma nova criação (cf. Sl 104,30). Sua vida tem outra força que antes.

O Evangelho do domingo passado mostrava a nova criação em sua primeira fase; hoje, essa criação chega ao seu ponto alto com o sopro de vida comunicado pelo Ressuscitado. Nessa nova criação, o “Criador” já não age como um vigilante, olhando de cima, mas se faz presente no meio da comunidade, deixando-se tocar, vivendo como um igual. O verbo soprar (gr. έμφυσάω – emfysáo) significa doação de vida. Assim, podemos dizer que Jesus recria a comunidade e, nessa, a humanidade inteira. Ao receber o Espírito, a comunidade se torna também comunicadora dessa força de vida. É o Espírito quem mantém a comunidade alinhada ao projeto de Jesus, porque é Ele quem faz a comunidade sentir, viver e prolongar a presença do Ressuscitado como seu único centro (CORNÉLIO, F. Homilia Dominical in porcausadeumcertoreino.blogspot.com).

“A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem não perdoardes, eles lhes serão retidos” (v. 23). O Espírito é dado à comunidade para que ela continue fazendo a Obra de Jesus. Essa missão é: tirar o pecado do mundo. A primeira qualificação de Jesus em João era: o “Cordeiro que tira o pecado do mundo” (1,29). Agora, ele dá seu Espírito aos discípulos para que, ocupando seu lugar no mundo, participem dessa missão. Perdoar é bem compreendido. Mas o que significa reter? Pode ser um indicativo do sacramento da reconciliação? Quanto a isso, não. Reter (gr. Krateîn) “significa simplesmente declarar que alguém ainda não possui a fé que conduz ao perdão dos pecados (BEUTLER, 2016, p. 356)”.

Jesus não está dando um poder aos discípulos, mas uma responsabilidade: reconciliar o mundo, levar a paz e o amor do Ressuscitado a todas as pessoas, de todos os lugares em todos os tempos. A comunidade cristã tem essa grande missão: fazer-se presente em todas as situações para, assim, tornar presente também o Ressuscitado com a sua paz. A comunidade tem a responsabilidade de fazer esse Espírito soprar em todas as realidades, para que toda a humanidade seja recriada e, assim, o pecado seja definitivamente tirado do mundo (cf. Jo 1,29). Os pecados são perdoados à medida em que o amor de Jesus vai se espalhando pelo mundo, quando seus discípulos se deixam conduzir pelo Espírito Santo. O que perdoa mesmo os pecados é o amor de Jesus; logo, ficam pecados sem perdão quando os discípulos e discípulas de Jesus deixam de amar como Ele amou. Em outras palavras, os pecados ficarão retidos quando houver omissão da comunidade (CORNÉLIO, F. Homilia Dominical in porcausadeumcertoreino.blogspot.com).

João insere uma nota importante. A comunidade dos discípulos não está completa. Falta Tomé. Se faz necessário compreender bem esta personagem, que desde muito tempo foi mal considerada. Retomemos a informação de que o motivo pelo qual a comunidade estava reunida à portas fechadas foi o medo; ora, se Tomé não estava com eles é porque não tinha medo e, portanto, circulava livremente e sem temor algum. Essa sua coragem foi ofuscada pelo rótulo inadequado de incrédulo. Todavia, o erro de Tomé foi o de não aceitar o testemunho da comunidade!

Oito dias depois (que continua sendo o primeiro da semana, o dia da Memória do Ressuscitado), informa-nos João, Jesus novamente se pões no meio deles, deseja-lhes a Paz e, então se dirige a Tomé. Convida-o, quase que literalmente usando as palavras daquele discípulo, a executar o gesto que havia pedido como prova.

Tomé ao invés de tocar o Senhor formula uma confissão de fé de valor incomparável: “Meu Senhor e meu Deus!” O título de Senhor (Kyrios) é o que cabe àquele que entrou na glória de Deus. João reserva este título para Jesus ressuscitado. O título “Deus” aplicado a Jesus retoma a dupla menção no Prólogo (Jo 1,1.18) e cria, assim, uma inclusão que abarca e resume o Evangelho segundo João inteiro (BEUTLER, 2016, p. 359).

Aqui revela-se a intencionalidade do texto. A bem-aventurança proclamada por Jesus: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (v. 28), reflete a preocupação do evangelista com as novas gerações de discípulos, muito questionadores chegavam a duvidar do anúncio, exigindo provas concretas da ressurreição. O evangelista responde a essa realidade: não há necessidade de visões e aparições; basta integrar-se a uma comunidade de fé para experimentar a presença do Ressuscitado. A comunidade reunida é o lugar por excelência de manifestação do Ressuscitado.

Tomé era chamado Dídimo (em grego: Dídimos), cujo significado é gêmeo. No entanto, o evangelista não apresenta o irmão gêmeo dele. Quem é o gêmeo de Tomé? Os personagens anônimos têm, no Quarto Evangelho, a função de paradigmas para a comunidade e os leitores. Ou seja, os personagens anônimos servem para que os leitores  assumam aquela identidade; se identifiquem com ela. Um convite aos leitores e discípulos de todos os tempos a tomarem Tomé como irmão gêmeo: questionador, corajoso, atento, perspicaz e convicto. Mas que também reconheçam a tentação da autossuficiência e do apego a si, ao recusar o testemunho (o modo de vida) da comunidade.

 “Para a geração apostólica, o acesso a Jesus era ainda possível mediante um encontro histórico, físico: eles podiam vê-lo, ouvi-lo, apalpá-lo. A geração seguinte devia aceitar a proclamação da mensagem da ressurreição. Tomé representa a transição da fé dos apóstolos para a fé da comunidade pós-apostólica. Ele deveria ter aceito a mensagem da ressurreição da parte dos dez e assim “ser crente”, em vez de, “incrédulo”, exigir sinais visíveis do Ressuscitado (BEUTLER, 2016, p. 359)”.

O capítulo 20 do evangelho joanino corresponde ao final original do Quarto Evangelho. Nesta seção o leitor-discípulo é convidado a tomar parte da experiência da comunidade dos discípulos com Jesus ressuscitado. Não se tratam de aparições, propriamente, mas de Encontros com o Crucificado-Ressuscitado. É evidente, que para aquelas testemunhas oculares não se constituiu tarefa fácil encarar as horas e os dias seguintes ao “acontecido” com Jesus de Nazaré. Por isso, o fiel e leitor do Quarto Evangelho, ou melhor, a geração posterior (na qual nos incluímos), deverá colocar-se no mesmo horizonte daquelas testemunhas oculares. Caberá a esta geração “Crer sem ver”, e por isso ser considerados o bem-aventurados por isso. Fundido os horizontes, o discípulo-leitor é convidado a tomar parte da narrativa da experiência da comunidade dos Doze. “Para João, morte e ressurreição não são realidades estanques, mas dois aspectos inseparáveis da mesma realidade, a glorificação de Jesus (KONINGS, 2005, p. 346)”.

Diante desta belíssima catequese joanina, três perguntas se fazem necessárias: 1) Estamos no segundo domingo da Páscoa. Já faz uma semana que estamos envolvidos pela ressurreição do Senhor. Por isso, qual a nossa condição e predisposição interior: amedrontados e fechados, ou alegres e reedificados na Fé, pela virtude do Ressuscitado? 2) Quais atitudes de Tomé encontram lugar em mim, com toda a ambivalência daquela personagem? 3) Tomo consciência da importância que a vida e o testemunho da Comunidade tem para minha vivência de Fé, como matriz e geradora desta mesma Fé?

Arrisco uma Quarta pergunta: nossas comunidades encontram-se ressuscitadas, ou seja, conseguem testemunhar Cristo Ressuscitado para o mundo, e, com isso, viver a missão confiada no v.21?

Feliz Páscoa!

Pe. João Paulo Sillio.
Arquidiocese de Botucatu-SP.

sábado, 20 de abril de 2019

HOMILIA PARA A VIGÍLIA PASCAL – Lc 24,1-12





Nesta noite santa a Igreja celebra o ápice e o centro de sua fé: faz a memória da Páscoa do Senhor, de sua ressurreição dentre os mortos e de sua vitória sobre a separação que existia entre o ser humano e Deus através do Pecado. Fazemos a Memória Pascal de Jesus, Cordeiro de Deus, imolado ao Pai em fidelidade ao projeto do Reino e em vida entregue/doada à humanidade. Nesta noite fazemos a memória de nossa passagem pelas águas da morte-vida, que nos deram vida nova. É uma festa batismal. Somos, nesta noite santa, ressuscitados por Cristo, com Cristo e em Cristo. Por isso, nesta grandiosíssima noite a Páscoa do Senhor torna-se nossa Páscoa.

Para adentramos no mistério desta noite santa, a liturgia nos propõe o texto do evangelho de segundo Lucas (Lc 24,1-12). O último capítulo do terceiro evangelho. Por isso, se faz necessário compreender o contexto e as motivações do evangelista ao escrever este relato pascal, cuja a primeira seção (ou primeira parte) somos convidados a meditar.

O último capítulo do evangelho de Lucas, que fala da ressurreição de Jesus, não é só a conclusão óbvia e tradicional de sua trajetória histórica, mas a meta última de sua caminhada idealizada, o cumprimento de todas as promessas e expectativas de salvação (FABRIS, 1998, p.238).

Lucas situa os eventos pascais num só dia, e num só lugar, Jerusalém. Para o evangelista, a cidade tem um papel importante para sua obra. A cidade, representante simbólica da antiga história salvífica, é a meta não só geográfica, mas teológica da caminhada de Jesus: em Jerusalém se revela a grande ação salvadora de Deus, a morte e a ressurreição do messias; aqui ele, como o “vivente” e glorificado, encontra os seus discípulos para enviá-los a todos os povos (cf. FABRIS, 1998, p.238).

Mas é interessante notar que Lucas organiza o relato em torno de três episódios: 1) as mulheres que vão ao sepulcro; 2) a passagem dos discípulos de Emaús; e, por fim, 3) a aparição (encontro) com o grupo dos onze. Acontecem num arco de um só dia, o domingo. O que revela um motivo litúrgico para o texto (MAGGIONI, 1998, p.54).

Para nós, interessa o primeiro relato (Lc 24,1-12). Elas vão até o sepulcro onde havia sido posto o corpo de Jesus. Ao chegarem ao lugar, deparam-se com o sepulcro aberto e vazio (v.1-2). Algo acontecera ali. Mas atenção, a tônica do relato não deve ser colocada sobre o sepulcro vazio. Isso ainda é pouco. Diante do sepulcro vazio não nasce a fé, mas a perplexidade, a desconfiança, o medo, a inquietação, e mais frustração ainda. Diante do sepulcro vazio permanece ainda a dúvida. O acento ou a tônica do texto devem ser direcionados para o que virá a seguir.

Diante da perplexidade e do risco da dúvida, o evangelista nos informa que aparecem dois mensageiros celestes. Eles se colocam ao lado das mulheres e lhes interroga, com uma pergunta em tons de afirmação: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (v.5-6). Ora, se faz necessário acolher uma revelação do alto para que nasça a Fé, e não contemplar o sepulcro vazio. É urgente elevar o olhar e deixar de olhar para chão!

É importante fixar, o interesse central do evangelista não é o túmulo vazio, mas o anúncio da ressurreição de Jesus dado na proximidade do túmulo. O túmulo aberto, a ausência do corpo de Jesus nada dizem ainda (FABRIS, 1998, p.238).

A pergunta-revelação traz um conteúdo fundamental: Jesus está vivo! O texto grego nos ajuda a perceber esta afirmação. Ele soa mais ou menos assim: “por que procurais um vivo (vivente) entre os mortos?”. Um vivente. Ora, o evangelista usa de uma pergunta porque, evidentemente espera uma resposta. A revelação divina acerca de Jesus exige sempre uma resposta do ser humano. Esta boa-noticia não é uma palavra que se ouve e basta. Pelo contrário, ela exige um acolhimento na vida do discípulo.

Um detalhe importante nos é dado por Lucas. A presença de dois mensageiros. Na antiguidade  e na cultura do povo de Jesus, um testemunho só seria devidamente válido e autorizado pelo depoimento concorde de duas ou três pessoas (cf. Dt 19,15). Eles funcionam, pois, como testemunhas autorizadas da ressurreição, dado que a figura e o testemunho dado por mulheres ou menores de idade não eram validos na época.

Eles testemunham para as mulheres que Jesus é o Vivente. O vivente aqui não significa o retornado à vida, mas inserido na vida mesma de Deus. Jesus entrou na vida de Deus. Encontra-se, agora, Nele. A ressurreição não é um ato tão somente, mas um estado; uma condição permanente!

A afirmação de que Jesus é o vivente, está carregada da influencia do ambiente bíblico, onde Deus é chamado o “vivente” (cf. Js 3,10; Jz 8,19). Na Igreja de Lucas, esta denominação é referida a Jesus ressuscitado (cf. At 1,3; 25,19) e é uma maneira de falar da ressurreição de Jesus em termos compreensíveis também para gente estranha à cultura bíblica. Se Jesus é o vivente, não tem mais sentido procurá-lo no lugar onde estão os mortos; Jesus não está mais no passado, mas vive no presente e é projetado rumo ao futuro como todo vivente. Então, o sepulcro vazio não diz mais nada sobre a nova realidade; c simplesmente um sinal negativo e equívoco. Também ela tem os traços do modo de falar bíblico da ressurreição dos mortos, sobretudo nos textos apocalípticos, onde a superação da morte é descrita com a imagem do despertar do sono ou de ficar de pé ou se levantar. Mas nem a inspeção do túmulo, nem uma fórmula de fé abrem o homem ao novo horizonte da ressurreição. Só a palavra de Deus, que se tornou a palavra ou a promessa de Jesus, oferece a chave hermenêutica para compreender a nova experiência salvífica. Por isso, Lucas relata as palavras de Jesus que explicam o sentido de sua morte (FABRIS, 1998, p.240).

Recordar para compreender. A aparição dos anjos e sua mensagem não trazem, a rigor, nada de novo. Tampouco inesperado. Mas tem a função de reavivar, ou acordar, a memória do que já existia nelas. Na perspectiva dos mensageiros celestes as mulheres deverão recordar, fazer memória, para poder compreender. Porque, para abrir-se à ressurreição não basta ver o sepulcro vazio, tampouco basta a visão dos anjos: mas fazer memória, o que não é uma simples recordação do passado – e, no caso, os eventos da paixão e morte de Jesus – mas repensar, reler, ressignificar e atualizar (trazer para o momento presente) aquele evento da vida, paixão e morte de Jesus. Ora, é partindo da ressurreição que se poderá lançar luzes e significados para sua vida e morte.

Lucas sublinha repetidas vezes que a memória (a capacidade e o dom de reler/ressignificar) é necessária para abrir-se à ressurreição e à sua credibilidade. Sem a recordação/memória da vida de Jesus não se retém os sinais e o sentido da ressurreição.

Em outras palavras, a ressurreição de Jesus não é compreensível se não estiver relacionada com toda a trajetória histórica culminando na morte de cruz. E esta por sua vez não tem sentido a não ser no horizonte mais vasto de uma caminhada histórica de salvação que envolve todos os homens. A ressurreição de Jesus é a explosão de um amor fiel, de empenho pela liberdade, como foi vivido pelo Filho do Homem, que dá assim uma dimensão nova ao futuro de todos os homens (FABRIS, 1998, p.240).

A ressurreição de Jesus é a grande afirmação da parte de Deus de que a vida do seu Filho tornou-se uma vida salvífica e redentora. Em outras palavras, a ressurreição de Jesus, operada pelo Pai, foi o grande sim dito da parte de Deus à vida de Jesus de Nazaré – à forma e ao modo como ele decidiu-se por vive-la. Deus diz uma palavra definitiva sobre a vida de Jesus: ela é indestrutível. Por isso, ele está ressuscitado, em pé (gr. Egheirete).

Dos vv. 8-11 as mulheres retornam para junto dos onze – Lucas nos dá a conhece-las. Elas seguem a ordem dos mensageiros celestiais e passam para a condição de missionárias, anunciadoras daquela boa-notícia. O verbo usado por Lucas (gr. angello, anunciar) é um verbo missionário, que sempre indica o anúncio de um evento importante e inesperado (os quatro evangelista fazem uso dele em suas narrativas, Mt 28,8-10; Mc 16,10.13; Lc 24,9 e Jo 20,18).

Mas elas se deparam com a incredulidade dos onze. Para além do que foi dito acerca da credibilidade dos testemunhos das mulheres, a incredulidade dos discípulos para o evangelista é profunda e verdadeira. É um fechamento e endurecimento por parte do grupo diante da verdade divina acerca da ressurreição de Jesus e ao convite de fazer memória da vida e obra de Jesus para poder fazer a experiência da ressurreição. O verbo usado por Lucas, apisteuein, está no imperfeito e sugere uma incredulidade obstinada e contínua. Os onze resistem acreditar e em fazer a memória de Jesus.

Dentre os onze emerge uma figura proeminente: Pedro. Ele toma a atitude diferente. Ainda que descrita de modo rápido (levanta-se, corre até o sepulcro, encontra-o aberto, se inclina para olhar para dentro) é importante. A atitude de Pedro é reforçada pelo verbo blepein, olhar com atenção. E retorna ao seus maravilhado (gr. thaumazein). Mas o espanto de Pedro é também uma pergunta. Todavia, este espanto e perplexidade são já um passo importante do discípulo. Mas ainda não é a Fé.

Pedro primeiro percorreu a lenta caminhada da fé: da crise e do medo, na negação de Jesus preso e humilhado, à dúvida diante da mensagem das mulheres, à admiração e ao estupor do túmulo vazio, e ao encontro com o Senhor que vive (FABRIS, 1998, p.241).

O relato conclui-se com a constatação da incredulidade: da parte dos discípulos é obstinada e fechada; da parte de Pedro é abertura e disponibilidade. O tema da incredulidade perpassa os quatro evangelhos no tocante à ressurreição. Entretanto, Lucas quer insistir com a comunidade que para suscitar a fé na ressurreição não são suficientes o sepulcro vazio, nem as palavras das mulheres. Se faz necessário um encontro e uma experiência pessoal com Jesus Ressuscitado.

Mas da parte das mulheres, emerge a certeza e a abertura para fazer a memória da vida, paixão e morte de Jesus, para fazer a experiência da ressurreição. Elas se dispõe, primeiro, a levar a sério o convite dos mensageiros celestes: recordar das Palavras de Jesus (sua vida e obra) bem como o acontecido com ele (sua paixão e morte), e relê-las à luz da Ressurreição. A ressurreição é a vida de Jesus passada a limpo pelo Pai e pelas comunidades dos discípulos de todos os tempos que se propõem a viver a exemplaridade da vida de Jesus em suas vidas.

Isso é viver uma vida ressuscitada!

Feliz e Santa Páscoa do Senhor!

Pe. João Paulo Sillio.
Arquidiocese de Botucatu-SP

DESPERTA TU QUE DORMES



De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo

(PG43,439.451.462-463, in Liturgia das Horas, Ofício das leituras) 
(Séc.IV)

A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

HOMILIA PARA A SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR – Jo 18,1 – 19,42:





A narrativa da paixão que meditamos nesta ocasião da sexta-feira Santa, é retirada do Quarto Evangelho. Ela toma dois capítulos, começando em 18,1 e estendendo-se à 19,42. Um modo eficaz de lê-lo consiste em situá-lo no contexto da pedagogia litúrgica, isto é, na sequência do texto da quinta-feira santa da ceia do Senhor. Ali, presenciava-se o gesto profético (e simbólico) da entrega da vida de Jesus em-amor-até-o-fim, visibilizado no gesto da tradição paulina da ceia do senhor (2ª leitura da liturgia) e no gesto do lava-pés. Ambos os gestos são símbolos e profecias da entrega de Jesus na cruz. Por isso foi oportuno perguntar sobre a identificação do leitor do texto com as personagens apresentadas na narrativa; acerca do “deixar-se lavar os pés” pelo senhor; para poder lavar os pés dos irmãos e tomar parte na vida de Jesus (“ter parte comigo”). Com que Jesus sentávamos a mesa na liturgia de ontem? Com que Jesus sigo para cruz?

Chegou a Hora de Jesus. A narrativa situa-se no chamado livro da Glória (Jo 13,1 – 20). A Hora de levar tudo (e todos) até o Fim, como Jesus declarará no momento de sua morte, que “tudo está consumado (finalizado)”, através do seu enaltecimento na Cruz. A hora da Cruz é o momento em que Deus revela a sua presença e todo o seu poder em Jesus crucificado. Ela foi preparada pelos sinais. A Hora de Jesus constitui o momento culminante do Quarto Evangelho, no qual Jesus opera a sua obra definitiva.

Feitas as devidas contextualizações se faz importante, antes de assumirmos a meditação de partes importantes da narrativa (porque seria inviável medita-la integralmente aqui), dizer que a narrativa evangélica da paixão segundo João é diferente das demais. Apresenta um Jesus soberano e senhor de si, adquirindo tons de realeza. É importante, também, fazer uma apresentação das personagens que, para este propósito, julgo centrais.

No Jardim (Jo 18,1-12):

Lancemos um olhar para Jesus. Na teologia do Quarto Evangelho, João apresenta Jesus sempre consciente e onisciente. Na narrativa da paixão, ele tem tudo em suas mãos. Ele não é feito vítima da situação. Não permite que ninguém, exceto o Pai, tenha a Sua vida nas mãos. É um Jesus senhor de si.

Jesus não é surpreendido por Judas e pelas pessoas que vieram prendê-lo. Ele vai ao encontro do traidor, por quem estava esperando (18, 4). Típica ironia joanina, o evangelista nos conta que Judas vem equipado com lanternas e tochas. Judas preferiu as trevas à luz que veio no mundo (3, 19). Ou seja, quando ele deixou Jesus, já era noite fechada (13, 30), e agora ele precisa de luz artificial.

Na casa de Anás (Jo 18,13-27):

Temos três personagens. Um deles é Anás, sogro de Caifás, o sumo sacerdote em exercício. Desconectados e confusos. O segundo personagem é Pedro; enquanto Jesus está mostrando sua inocência, seu mais conhecido seguidor está mostrando fraqueza. Novamente, somente no quarto Evangelho, “um outro discípulo” tem um papel no drama da negação de Pedro (18, 15), presumivelmente “o discípulo que Jesus amava”. Não há fundamento em identifica-lo a João (o que seria demasiado simplista). Mas, fato é, ele está a frente de Pedro e contrasta com ele. Ele é sempre mais rápido ao ver, ao compreender e em acreditar, precisamente porque tem a primazia no amor de Jesus, que é uma marca da verdadeira condição de discípulo

No palácio de Heródes, diante de Pilatos ( Jo 18, 28-42): um diálogo [repleto] de Verdade.

Encontramos uma personagem confusa. Um camaleão. Um amedrontado Pilatos. Soma-se a isso a alternância dos cenários externos e internos. Nesse vai-e-vem, Pilatos vai mudando e assimilando as imagens de seus ambientes. Uma constatação importante, o cenário do inquérito contra Jesus acontece dentro do palácio. Ao interno do palácio ocorre a alternância entre luz (externo) e trevas (interno). Na maneira como João dispõe a narrativa, o inquérito acontece ao interno para revelar esta oposição típica de seu evangelho: luz / trevas. A intenção (ainda que através de sua ironia) é revelar Jesus (solitário e recluso no palácio) como Luz diante de Pilatos, envolvido em dúvidas e trevas. Note-se também o contraste: fora do palácio há incessante pressão, conspiração e tumulto; dentro, há calma e diálogo penetrante. É sobre este diálogo que manteremos nossa atenção.

Agora inicia-se o processo do Mundo, representado pelo Império. O mundo não o conheceu, e os seus não acolheram-no. De madrugada (ao raiar um novo dia). Jesus está diante do procurador romano. Este o interroga, com base no que ouviu. “Tu és o rei dos judeus?” Interroga o procurador. A resposta de Jesus soa desafiadora: “Estas dizendo isso por ti mesmo, ou outros te disseram isso de mim?” Jesus não responde nem que sim, nem que não, mas dará as balizas para compreender o seu reinado. Deixando que o próprio Pilatos tome sua decisão. Este se esquiva, dizendo que não é judeu, e insiste sobre a culpabilidade de Jesus. A Sua resposta é paradigmática: “O meu reino não é deste mundo.
Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”.

O que o Jesus joanino quer revelar através desta resposta? É preciso tomar o texto original que expressa-se assim “o meu reino não vem deste mundo (ek tou kosmou tuotou)”. Isso revela que a realeza de Jesus não advém das realidade mundanas, das estruturas de poder, domínio, opressão. Vem do alto. Jesus declara, pois, que sua realeza não depende do poder deste mundo, mas de Deus. A autoridade que ele exerce pertence a Deus, e o que ele faz é execução da vontade do Pai (KONINGS, 2005, p.328).

As palavras “meu reino não é daqui (= deste mundo)”, portanto, não sugerem fuga do mundo, nem justificam a alienação política (17,15). Pelo contrário, convocam o cristão a uma lucidez política superior. Aderir ao reino de Jesus é aderir à verdade daquele que, em tudo o que faz, é palavra de Deus e que liberta de toda escravidão. No âmbito político, Deus está do lado da liberdade verdadeira, que fomenta a verdadeira dedicação mútua das pessoas na solidariedade e na responsabilidade (KONINGS, 2005, p.328).

Aqui ele se identifica como testemunha da verdade. "Da verdade" é um genitivo de pertença. “Verdade” deve ser entendida a partir do fundo bíblico (cf. 1,14; 14,6): lealdade, fidelidade, coerência e firmeza no pacto, na amizade, no amor. O que Jesus vem atestar é o reinado da veracidade do Deus fiel, que se manifesta na prática e na palavra de Jesus (ver 1,14).

O reino da verdade é também a prática do mandamento que Jesus legou como marca de pertença: o amor (cf. esp. 15,9-17; 13,35). Ao mesmo tempo, o termo deve ser entendido no quadro do simbolismo joanino, em contraste com a mentira. A mentira é a incredulidade, a recusa a Jesus, a pretensão de ter Deus sem passar pelo caminho que é Jesus, uma vez que ele se dá a conhecer. No Evangelho de João, a mentira parece encarnar-se na liderança dos “judeus” e no diabo a quem eles obedecem (cf. cap. 8, sobretudo 8,44); aqui, confiam sua guarda a Judas, que está em poder do diabo. Mas sabemos que João pensa também naqueles que, em seu tempo, no seio da comunidade cristã, voltam as costas a Jesus (cf. sobretudo 1Jo 2,22) (KONINGS, 2005, p.327).

Jesus encaminha o diálogo com Pilatos, após a pergunta em tons afirmativos “Então, tu és rei?”. O nazareno responde: “é você quem está dizendo isso”, em outras palavras “Tire as consequências você mesmo, Pilatos”. Pilatos, sim, é “deste mundo”. Não deseja abrir-se à verdade.

Mas neste diálogo emerge uma novidade muito profunda e marcante. Pensemos. Pela lógica do inquérito, Pilatos faz as vezes do juiz que interroga, questiona e apura os fatos para dar cabo de uma sentença. Entretanto, a partir das respostas eloquentes que Jesus dá aponta para uma revelação importante: o juiz não é Pilatos. No inquérito, quem assume a figura do juiz é Jesus, deixando para Pilatos o papel de investigado. Na verdade, o procurador romano é que foi colocado na berlinda por Jesus. João quer acenar para aquela característica de Jesus: o soberano e senhor de si e da situação, que não é pego nem surpreendido. Que não é entregue, mas que se entrega livre e voluntariamente até o fim (KONINGS, 2005, p.328).

A morte (19,28-37):

Após um caminho longo, Jesus chega ao lugar da crucifixão. Depois de tomar o vinho acre, Jesus exclama: “Tudo está consumado” (mesma expressão do v. 28), inclina a cabeça e “entrega o espírito”. Nestes versículos 28-30 ocorre duas vezes o verbo teléo, “consumar/levar ao fim” (vv. 28 e 30); e ainda teleióo, indicando o cumprimento das Escrituras (v. 29). Tudo isso lembra a expressão eis to telos em 13,1: “… sabendo… Jesus… amou-os até o fim”. O cumprimento da missão até o fim é idêntico ao testemunho do amor até o fim e ao cumprimento das Escrituras: nestas três realidades devemos ver o Pai que, permanecendo em Jesus, realiza as suas obras (14,10) (KONINGS, 2005, p.342). O dito “Tudo está consumado” acena para a realidade de que toda a vida de Jesus, através de suas obras e Palavra, refletem a vontade de Deus. Que Ele, Jesus, foi, de fato, o plenipotenciário enviado da parte de Deus para realizar a Sua Obra. Significa, ainda, que a vida e obra de Jesus atingem a Plenitude. Mas também revela a superação dos sistemas antigos dos sacrifícios levítico-cultuais. Eles estão superados.

Por isso, João faz coincidir a morte de Jesus no calvário com o exato momento em que se imolavam os cordeiros no templo, por ocasião da festa da pascoa. Jesus supera, com o dom de sua vida em amor, os antigos sacrifícios e se torna, pois, o único mediador entre a humanidade e Deus. Não é mais a observância da Lei, nem das prescrições levítico-cultuais os meios para se ter acesso a Deus, mas a humanidade, a vida e a obra de Jesus. Esta vida, Ele a entrega nas mãos do Pai.

Muitos comentadores querem ver nestas palavras, diferentes das expressões equivalentes usadas pelos sinópticos, uma alusão ao dom do Espírito Santo (cf. 7,39), o que combinaria bem com a ideia de que a comunidade deve continuar, na força do Espírito, a obra que Jesus levou a termo por sua parte (cf. também v. 34 e 20,19-23) (KONINGS, 2005, p.342).

Mas o “entregar o espírito” (a existência) acena para aquela onisciência e senhorio de Jesus, de que falou-se a pouco. O verbo grego paradidomai (entregar/doar) percorre toda a narrativa da paixão, mas aqui ele revela e, ao mesmo tempo afirma o domínio de Jesus diante da situação: quem entrega sua vida é ele mesmo, sabendo que tem o poder de retoma-la novamente. Ninguém a entrega. Ele livremente a doa, para que o Pai reconheça esta mesma vida como salvífica e redentora, dizendo a última palavra na vida do Filho.

O relato de hoje nos deixa diante de duas perguntas: 1) Com quais personagens me identifico? 2) Como tenho vivido minha existência cristã e meu discipulado?

A chave e o modo para viver o discipulado é a forma da Paixão. Não existe discipulado que não seja perpassado pela Cruz. Mas Ela não será a última palavra.

Esperemos.

Pe. João Paulo Sillio.
Arquidiocese de Botucatu-SP

quinta-feira, 18 de abril de 2019

HOMILIA PARA QUINTA-FEIRA SANTA DA CEIA DO SENHOR









A primeira parte do evangelho de João (1,38 – 12,50) preparou o leitor para a hora de Jesus, através dos sinais realizados por ele, e mediante seus ensinamentos. Eles davam a conhece-lo como o Enviado pleno do Pai, levando as pessoas a uma opção pró ou contra Jesus. Mas estes sinais eram, ainda, provisórios. Eles não eram sua Obra definitiva. Em Jo 2,4, assegura que sua hora ainda não havia chegado, de modo que não confundissem os sinais com a Hora definitiva da manifestação da Glória de Deus.

O leitor-discípulo é convidado, agora, neste capítulo 13, a tomar parte do Ensinamento Final de Jesus. É convidado a entrar na dinâmica da sua Glória (a mesma de Deus). Estes últimos ensinamentos constituem o Testamento de Jesus (Jo 13 – 17), concomitante à revelação da Glória de Deus, através de sua Hora: o seu enaltecimento na Cruz (Jo 18 – 19).

Se na primeira parte do Evangelho de João (1,38 – 12,50, o livro dos Sinais), Jesus mostrou, através dos sinais realizados, as suas credenciais proféticas e sua missão Divina, na segunda parte (13,1 – 20, no livro da Glória), Ele não mostra mais suas credenciais, mas revela a própria face de Deus, que é amor, dando sua vida por amor. Do modo como Jesus age, amando até às últimas consequências, assim é Deus. Agora sim, a sua Hora chegou. A Hora de levar tudo (e todos) até o Fim, como Jesus declarará no momento de sua morte, que “tudo está consumado (finalizado)”.

João situa a narrativa no tempo: “Era antes da festa da pascoa” (v.1). O autor do Quarto Evangelho, diferentemente da tradição sinótica (Mc, Mt e Lc), situa a ceia de Jesus na véspera da solenidade pascal. Então, a ceia pascal seria celebrada no dia seguinte (coincidentemente no Sábado, aquele ano). Não posso entrar aqui no porquê desta divergência cronológica. Resta apenas captar a intenção de João, a de situar a morte de Jesus no dia da solenidade pascal, no exato momento em que era imolado o cordeiro no templo (trataremos dessa explicação amanhã). A ceia relatada por João não é de caráter pascal, esta será celebrada um dia mais tarde, depois da morte de Jesus (cf. 18,28). Aqui se trata de uma ceia de despedida, quem nem por isso deixa de ter sua importância.

O v.1 inicia a sessão com uma solenidade ímpar. Anuncia a chegada da hora, que vinha sendo preparada desde os primeiros sinais realizados por Jesus, e, que, agora, começa a levar a termo. Esta forma solene aponta para a finalidade da missão de Jesus: manifestar o amor do Pai até o fim para os seus, que estavam no mundo. A expressão, “até o fim” pode significar “até à plenitude”,  ou “até o último momento”, e está relacionada à ultima expressão de Jesus na cruz: “Tudo está consumado” (Jo 19,28.30, literalmente, “está finalizado”). “Amou-os até” indica a plenitude e a intensidade do gesto de Jesus!

O gesto de Jesus e seu significado (Jo 13,2-15):

Após João situar o leitor no tempo e, com isso, introduzi-los na cena, ele narra um evento: inicia-se um Jantar (note-se a ausência do artigo definido). No entanto, não se trata de uma refeição qualquer. Trata-se de uma refeição de caráter comunitário (com em Ex 12, “Que todos comam o cordeiro em família, e se for muito para aquela, que se convide outra família”).

É importante compreender o simbolismo das refeições para os povos do oriente, em especial para os semitas. A refeição era o momento privilegiado para se partilhar a vida entre os comensais. Uma pessoa ao ser convidado para uma refeição na casa de um conhecido seu deveria encarar tal convite como sendo uma honra muito grande, porque era o sinal de que anfitrião nutria muita estima pelos seus convidados e, fundamentalmente, tinha a intenção de torna-los participantes de sua vida e de sua alegria. Os discípulos estão reclinados sobre almofadas, apoiados por sobre o braço esquerdo.

O evangelista dramaticamente dá o tom para a sua melodia, focalizando internamente a consciência diabólica de Judas Iscariotes. “o Diabo” o havia seduzido (lit: “tinha posto no coração de Judas... que entregasse Jesus”). Muito importante esta focalização feita por João. A consciência diabólica de Judas contrasta com a Consciência de Jesus: que o Pai “tudo” (semitismo para Todos) havia colocado nas mãos do Filho (o Pai colocou Tudo e Todos nas mãos do Filho), e de que a partir daquele momento começava seu retorno para Deus, afim de prestar contas de sua missão, enquanto seu enviado. O Jesus joanino tem tudo em suas mãos; tudo sob controle. Não é pego de surpresa, tampouco é vítima da situação. Ao contrário, voluntaria e livremente, ele se coloca ao lado das vítimas do Anti-Reino, neste mundo (comentaremos sobre isso, amanhã).

Então, com essa consciência Jesus levanta-se da mesa. Depõe seu manto. Um gesto simbólico: ao depor o manto está, na verdade, despojando-se da imagem de mestre. Cinge-se com uma toalha à cintura (lembrar, aqui, o sentido do “cingir” em 21,18, no diálogo com Pedro, bem como daquela passagem em Lc 12,37, onde o dono da casa se levanta para cingir os servos fieis!). Estes símbolos servem para explicar o gesto de Jesus: como que numa transfiguração as avessas, Jesus depõe a sua imagem de Senhor, e assume a forma de servo (Fl 2,7). O Jesus joanino não veste os paramentos sagrados dos sumos sacerdotes, mas os distintivos comuns do serviço: não as alfaias da casta sacerdotal, mas o avental dos servos (MAGGI, A loucura de Deus, p.133).

A ação é continua, em seguida derrama água na bacia e começa a lavar os pés dos discípulos. O Gesto de Jesus parece estar deslocado, pois ele teria seu lugar antes de que todos se colocassem à mesa. Na verdade, este se trata de um gesto profético. Entendamos este gesto. Ele era realizado sempre antes se colocar à mesa, e isso devido as estradas poeirentas daquele tempo, e para que pudessem sentar à mesa, deveriam se purificar. Esta purificação, via de regra, era feita por um escravo (quando não, pelos filhos ou pela esposa, e, numa demonstração de profunda estima, pelo próprio anfitrião). Todavia, continuava sendo um gesto de muita humilhação (certos rabinos até orientavam escravos judeus a não realizarem este gesto para com seus patrões).

Tirar o manto em público significa renunciar ao próprio prestígio e à dignidade pessoal. Amarrar um avental na cintura (cingir-se) acena para a atitude do serviço, assumindo a forma e a condição de um escravo. O que se fazia somente por imposição, Jesus o faz voluntariamente. Ele quer ensinar que o destino de sua comunidade e de seus discípulos é o serviço! Esta é a sua real e mais essencial identidade.

Agora desloquemos o olhar para outro personagem que aparece na narrativa. Pedro. Consciente da conotação humilhante daquele gesto, protesta: “Senhor, tu me lavas os pés?”. Ele, por um lado, vê no gesto de Jesus, humilhação. Este, por outro, vê, porém, a dedicação da própria vida. Para Pedro, bem como para todos os outros, o gesto de Jesus é incompreensível. E de fato o é para aqueles que ainda não conheceram em profundidade, o mistério do Filho de Deus. Por isso, Jesus afirma, que, por hora, eles não sabem o significado daquele gesto (ainda não chegou a hora de compreender, porque esta só acontecerá à luz do enaltecimento na cruz e mediante o dom do Espírito de Jesus Ressuscitado).

No v.8, Pedro ainda não reconhece sua incompreensão. Pensa ser o gesto de Jesus uma humilhação e, por isso, inaceitável para ele. Evidentemente, porque para aqueles que pensam em termos de hierarquia, o mundo vira de pernas para o ar quando o superior se torna inferior! “Tu não me lavarás os pés, nunca!”, declara o discípulo. Mas Jesus retruca, dizendo “que não terá parte com ele, caso não deixe lavar os pés”. O que Pedro não quer aceitar e, demora a assimilar é que a originalidade do gesto de Jesus reside na inversão de que o mestre e senhor se faça servo e escravo. Acontece que a profundidade do gesto de Jesus reside no fato de que é um gesto simbólico profético da entrega da própria vida. O gesto de lavar os pés é um símbolo para o que ele realizará mais adiante: sua vida consumida na cruz.

“Ter parte” remete o leitor do Quarto Evangelho ao Antigo Testamento, ao tema da herança da Terra, e, em última análise, à Salvação. Mas em termos joaninos, não ter parte com Jesus significa não ter a vida de Jesus, a vida eterna. Ter parte com Jesus, significaria, por outro lado, ter em si a vida de Jesus, e torna-la existencialmente vivida de novo, através da vida do discípulo e da comunidade. Não é possível comungar da vida do Filho, sem aceitar sua lógica do serviço radical. Se Pedro (e qualquer outro discípulo) não aceitar o gesto de Jesus, não participará do efeito da obra messiânica de Jesus (KONINGS, 2005, p. 259).

Pedro, carregado pelo seu costumeiro exagero, pede que não lhe seja lavado somente os pés, mas as mãos e a cabeça. Ele ainda não entendeu nada do gesto de Jesus, ficou parado na materialidade. Ainda não consegue pensar em termos de serviço. “A frase tem uma ressonância muito significativa quando situada no contexto da iniciação cristã: o lava-pés não é um banho como o batismo — do qual os Doze nem necessitam, pois já estão purificados pela palavra de Jesus que acolheram (cf. 15,3), com exceção do traidor (13,10-11)... Mas o que todos precisam é acolher o gesto do lava-pés, que não significa a purificação batismal como tal, e sim, a prática do Servo, em amor até o fim (KONINGS, 2005, p. 259).

O Jesus joanino volta à mesa, retoma sua condição de mestre e explica-lhes, então o gesto. Ora, os discípulos reconhecem-no como Mestre e Senhor, explica-lhes Jesus (o que de fato é verdade!). Mas se ele, enquanto mestre e Senhor lhes lava os pés, eles devem fazer a mesma coisa: lavar os pés uns dos outros, tornando-se escravos uns dos outros pela caridade (amor fraterno)! Uma imitação do gesto de Jesus até cairia bem.  Mas em João, são os doze, ou seja, os chefes (as lideranças da comunidade cristã, que devem fazer isso!

Entenda-se bem esta imitação. O gesto de Jesus acaba por tornar-se um indicativo para a comunidade de seus seguidores e seguidoras, que se torna um imperativo para Ela. O que se deve fazer está fundado, primeiramente, sobre um gesto realizado por Jesus, gesto anterior a todas as nossas ações posteriores. Antes da norma ética vem o Dom de Deus em Jesus. Ele torna-se escravo ao dar a própria vida, e é necessário que se acolha e se aceite isso de Jesus, para que o discípulo possa assumir e assimilar o gesto de Jesus através de sua vida.

“É no fato de segui-lo, ativamente, que mostramos em nossa vida a aceitação de Jesus-Servo, que dá a própria vida (cf. Is 53; Jo 12,38). Importa “deixar lavar os pés” (=ser salvo) por Jesus, mas devemos também “lavar os pés uns dos outros” (=serviço fraterno). Aceitar que Jesus seja o escravo, o “ninguém”, que faz de nós, “ninguéns”, o centro da atuação de Deus. Em Jesus acontece o “esvaziamento” de Deus para nós. Só quando tivermos assimilado esse fato seremos capazes de “lavar os pés” uns aos outros sem nos julgarmos importantes ou impormos nossa “caridade” ou “filantropia” como mérito nosso. Imitar Jesus é imitar Deus que se esvazia por nós (KONINGS, 2005, p.260)”.

O lava-pés de Jesus é um símbolo. Ele não pode ser interpretado unicamente por sua materialidade. Interpretar o Dom de Jesus, através deste gesto profético, significa não considerar Jesus como um herói, fácil de se copiar em suas façanhas, mas deixar transparecer em nosso agir, o esvaziamento de Deus.

O texto suscita algumas perguntas para nós, as quais nos ajudarão a bem renovar em nossas vidas, através das solenidades destes dias, o Sacramento Pascal, mediante este Sagrado Tríduo: 1) Com qual das peronagens me identifico: Judas, que não mais se identifica com Senhor, a ponto de tornar-se adversário do projeto de Jesus e de seu Pai, ou com Pedro, que reluta ainda em assimilar a forma serva de Jesus? 2) Tenho me deixado lavar os pés por Jesus (e com isso aceitado o Seu Dom-Salvação), para poder lavar os pés dos irmãos (através do serviço do amor/doação fraterno)? 3) Tenho crescido na consciência de que ao comungar da Vida do Senhor (através de seu Corpo e Sangue), devo igualmente comungar (assimilar e realizar) no lava-pés do Senhor? Não há Eucaristia sem lava-pés!


É com estas perguntas que somos convidados a sentar-se a mesa com Senhor, tomar parte de sua vida, assimilá-la, e percorrer o mesmo caminho que se desenrolará amanhã. Desde o Horto até o Golgota.

Pe. João Paulo Sillio. 
Arquidiocese de Botucatu-SP