A liturgia deste décimo segundo domingo do
tempo comum, propõe a continuidade da leitura do discurso missionário de Jesus,
situado no capítulo décimo do Evangelho segundo Mateus. O discurso consiste
numa série de ensinamentos de Jesus, destinados aos discípulos, a respeito da
missão. O que o mestre realizará, valerá, igualmente para o discípulo. O texto
lido hoje – Mt 10,26-33 – já coloca o discurso próximo de seu final. O discurso
missionário foi motivado pelo inconformismo de Jesus em face da situação das
multidões, cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor, ou seja, abandonadas e
exploradas pelos chefes dos poderes político, econômico e religioso da época.
Nesse sentido, a missão consiste no anúncio do Reino, como conteúdo
fundamental. E este anúncio se visibiliza através da tarefa de restituir vida,
dignidade e esperança, denunciando tudo o que impedia o ser humano de viver com
dignidade.
Quem luta por isso, inevitavelmente, será
vítima de perseguições hostilidades, como previu o próprio Jesus (Mt 10,16-25).
Após alertar os discípulos sobre a quase certeza da perseguição, Jesus os
encoraja para não desanimarem. E é isso o que compreende o texto lido hoje: o
convite à coragem e à confiança no Pai e no próprio Jesus (CORNÉLIO, F, Homilia
dominical. in. Porcausadeumcertoreino.blogspot.br).
Após situar o contexto imediato ao texto de
hoje, podemos entrar no horizonte da cena bíblica. Dos versículos 26-27, Jesus
exorta aos discípulos, “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto
que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. O que vos
digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido,
proclamai-o sobre os telhados!”. O medo,
ao interno da tradição bíblica, e na vida espiritual, constitui o contrário da Fé.
Ele acomoda e paralisa a pessoa, impedindo-a de assumir e tomar as rédeas da vida
e da história, ao interno do horizonte de Deus. Aquele que é chamado para a
missão deve saber das consequências inerentes à ela, e não poderá sucumbir ao
medo.
O que havia de encoberto até então, e que não poderia mais permanecer oculto, era o que Jesus já tinha ensinado somente aos discípulos. Eles deverão ser os porta-vozes do mestre. Tinha chegado o momento de tornar público, fazer espalhar o que os discípulos tinham aprendido do mestre, especialmente o seu jeito de viver. O imperativo “proclamai-o sobre os telhados” é um convite ao esforço e à criatividade no anúncio.
O que havia de encoberto até então, e que não poderia mais permanecer oculto, era o que Jesus já tinha ensinado somente aos discípulos. Eles deverão ser os porta-vozes do mestre. Tinha chegado o momento de tornar público, fazer espalhar o que os discípulos tinham aprendido do mestre, especialmente o seu jeito de viver. O imperativo “proclamai-o sobre os telhados” é um convite ao esforço e à criatividade no anúncio.
No v.28, Jesus é mais enfático ainda. Os discípulos missionários não deverão se intimidar diante dos que colocarem obstáculos para seu trabalho
missionário. Antes, só temerão aquele que, além de tirar a vida física, pode
privar as pessoas da vida eterna, ou seja, Deus. Só a ele se deve temer. A
perda total da vida não é um castigo, mas consequência das próprias escolhas. (cf.
VITÓRIO, J. 2017, p.72).
Para desfazer este mal-entendido acerca da
perseguição que os discípulos sofrerão (e ainda sofrem), Jesus toca no tema da
providência divina. Ele se serve de duas parábolas nos vv. 29-30, as quais ajudam
os discípulos a tomar consciência da proteção que gozam da parte de Deus. Se o
Pai do Céu está atento a um passarinho, o animal de valor mais baixo no mercado, não
permitindo que morra, sem sua expressa vontade, quanto mais um discípulo de
Jesus! Se nem um cabelo cai de nossa cabeça sem o expresso consentimento do
Pai, tanto mais um discípulo. O cabelo era considerado o menor e mais inútil
elemento do corpo humano e, mesmo assim, contado pelo Pai. A confiança na providência
de Deus é o que encoraja o discípulo no decorrer da missão.
“Portanto, todo aquele que se declarar a
meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele. Aquele,
porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai
que está nos céus” (v. 32-33). Para viver a missão é preciso ter a coragem e a
coerência de viver. O testemunho corajoso do discípulo diante dos homens terá
como contrapartida o testemunho de Jesus, a seu favor, diante do Pai. Pelo
contrário, quem se deixa levar pelo medo e renega o Senhor será renegado por
Jesus, diante do Pai, por ocasião do juízo.
Declarar-se a favor
de Jesus significa ser no mundo sinal da sua própria presença; indignando-se ao
contemplar pessoas abandonadas e sofridas, e buscar soluções transformadoras; é
agir com misericórdia diante do sofrimento das pessoas, denunciando as
injustiças e todos os impedimentos ao florescer do Reino dos Céus. Negá-lo não
é deixar de proclamar uma fórmula de fé, mas deixar de viver seu programa de
vida expresso nas bem-aventuranças (CORNÉLIO, F, Homilia dominical. in. Porcausadeumcertoreino.blogspot.br).
Pe. João Paulo Sillio.
Arquidiocese de Botucatu - SP
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