sábado, 20 de junho de 2020

HOMILIA PARA O XII DOMINGO DO TEMPO COMUM – Mt 10,26-33:



A liturgia deste décimo segundo domingo do tempo comum, propõe a continuidade da leitura do discurso missionário de Jesus, situado no capítulo décimo do Evangelho segundo Mateus. O discurso consiste numa série de ensinamentos de Jesus, destinados aos discípulos, a respeito da missão. O que o mestre realizará, valerá, igualmente para o discípulo. O texto lido hoje – Mt 10,26-33 – já coloca o discurso próximo de seu final. O discurso missionário foi motivado pelo inconformismo de Jesus em face da situação das multidões, cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor, ou seja, abandonadas e exploradas pelos chefes dos poderes político, econômico e religioso da época. Nesse sentido, a missão consiste no anúncio do Reino, como conteúdo fundamental. E este anúncio se visibiliza através da tarefa de restituir vida, dignidade e esperança, denunciando tudo o que impedia o ser humano de viver com dignidade.

Quem luta por isso, inevitavelmente, será vítima de perseguições hostilidades, como previu o próprio Jesus (Mt 10,16-25). Após alertar os discípulos sobre a quase certeza da perseguição, Jesus os encoraja para não desanimarem. E é isso o que compreende o texto lido hoje: o convite à coragem e à confiança no Pai e no próprio Jesus (CORNÉLIO, F, Homilia dominical. in. Porcausadeumcertoreino.blogspot.br).

Após situar o contexto imediato ao texto de hoje, podemos entrar no horizonte da cena bíblica. Dos versículos 26-27, Jesus exorta aos discípulos, “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!”.  O medo, ao interno da tradição bíblica, e na vida espiritual, constitui o contrário da Fé. Ele acomoda e paralisa a pessoa, impedindo-a de assumir e tomar as rédeas da vida e da história, ao interno do horizonte de Deus. Aquele que é chamado para a missão deve saber das consequências inerentes à ela, e não poderá sucumbir ao medo. 

O que havia de encoberto até então, e que não poderia mais permanecer oculto, era o que Jesus já tinha ensinado somente aos discípulos. Eles deverão ser os porta-vozes do mestre. Tinha chegado o momento de tornar público, fazer espalhar o que os discípulos tinham aprendido do mestre, especialmente o seu jeito de viver. O imperativo “proclamai-o sobre os telhados” é um convite ao esforço e à criatividade no anúncio.

No v.28, Jesus é mais enfático ainda. Os discípulos missionários não deverão se intimidar diante dos que colocarem obstáculos para seu trabalho missionário. Antes, só temerão aquele que, além de tirar a vida física, pode privar as pessoas da vida eterna, ou seja, Deus. Só a ele se deve temer. A perda total da vida não é um castigo, mas consequência das próprias escolhas. (cf. VITÓRIO, J. 2017, p.72).

Para desfazer este mal-entendido acerca da perseguição que os discípulos sofrerão (e ainda sofrem), Jesus toca no tema da providência divina. Ele se serve de duas parábolas nos vv. 29-30, as quais ajudam os discípulos a tomar consciência da proteção que gozam da parte de Deus. Se o Pai do Céu está atento a um passarinho, o animal de valor mais baixo no mercado, não permitindo que morra, sem sua expressa vontade, quanto mais um discípulo de Jesus! Se nem um cabelo cai de nossa cabeça sem o expresso consentimento do Pai, tanto mais um discípulo. O cabelo era considerado o menor e mais inútil elemento do corpo humano e, mesmo assim, contado pelo Pai. A confiança na providência de Deus é o que encoraja o discípulo no decorrer da missão.

“Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus” (v. 32-33). Para viver a missão é preciso ter a coragem e a coerência de viver. O testemunho corajoso do discípulo diante dos homens terá como contrapartida o testemunho de Jesus, a seu favor, diante do Pai. Pelo contrário, quem se deixa levar pelo medo e renega o Senhor será renegado por Jesus, diante do Pai, por ocasião do juízo.

Declarar-se a favor de Jesus significa ser no mundo sinal da sua própria presença; indignando-se ao contemplar pessoas abandonadas e sofridas, e buscar soluções transformadoras; é agir com misericórdia diante do sofrimento das pessoas, denunciando as injustiças e todos os impedimentos ao florescer do Reino dos Céus. Negá-lo não é deixar de proclamar uma fórmula de fé, mas deixar de viver seu programa de vida expresso nas bem-aventuranças (CORNÉLIO, F, Homilia dominical. in. Porcausadeumcertoreino.blogspot.br).

Pe. João Paulo Sillio.
Arquidiocese de Botucatu - SP

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