O capítulo vinte e cinco do evangelho de Mateus abre o quinto e último discurso de Jesus em que subdivide-se a catequese mateana. Vale lembrar que o primeiro evangelho foi estruturado pelo seu catequista/autor em cinco grandes discursos a exemplo da Torah, que contém os cinco primeiros livros da tradição de Israel. Neste capitulo, pela última vez aparece o termo Reino dos Céus – que em última análise é o mesmo Reinado de Deus, isto é, sua atuação histórico-salvífica através de Jesus de Nazaré.
Mateus, inicia o chamado discurso escatológico, o qual trata da ultimidade/novidade e plenitude da ação de Deus em Jesus, recuperando e transmitindo à sua comunidade uma parábola contada pelo mestre, a qual trabalha o tema da vigilância. A parábola apresenta elementos inerentes a uma festa de casamento. Sabemos que as parábolas possuem três intenções: 1) servindo-se de elementos conhecidos da realidade, chamar a atenção do leitor-ouvinte; 2) provoca-lo; e estimulá-lo a mudar de atitude. Como vemos esses elementos presente na parábola de hoje?
Jesus opera mudanças significativas nos costumes da festa de casamento, ao iniciar a narrativa da parábola das dez virgens. De acordo com o costume, era o noivo que ia ao encontro das virgens. Aqui, Jesus subverte a lógica do costume, e diz que são as virgens que correm ao encontro do noivo. Outra subversão contida no ensino do mestre é a ideia do fechamento das portas, após a entrada do noivo. Uma festa de casamento, no tempo de Jesus, como bem sabe-se, era um evento aberto para todo o povoado. Jesus usa destas hipérboles, justamente para chamar a atenção do leitor-ouvinte para a mensagem que ele quer transmitir.
Quem são as dez virgens, das quais Jesus se serve para a parábola? Virgens, são aquelas que ainda não se casaram, nem foram ainda prometidas em casamento, no tempo da sociedade de Jesus. Mas que estão à espera do noivo. Segundo Jesus, elas tomam suas lâmpadas. No entanto, a melhor tradução seria “tochas”, em lugar de lâmpadas. A atitude delas foi a de sair ao encontro do esposo. Mateus serve-se da imagem preferida do profeta Oséias, na qual a imagem do esposo é aplicada à Deus. Ele seria o esposo e o povo, a esposa.
Das dez virgens, cinco eram prudentes, e as outras, imprudentes. Porém, Mateus utiliza um termo que Jesus proibiu de ser usado ao interno da comunidade dos discípulos, o termo morós (gr. μωραὶ/μωρός), o qual define uma pessoa tola, descrente, ímpia. Uma ofensa muito grande, que aparece já no Sermão da Montanha, em 5,22. As outras cinco eram inteligentes, prudentes e sábias. Mateus opera aqui uma inclusão, uma delimitação textual, como que fechando e amarrado os cincos discurso, ao relembrar através destes termos utilizados na parábola por Jesus, o Discurso inaugural em Mt 7,21-24, na parábola do homem sábio que construiu sua casa sobre rocha, em contraste com o imprudente que construiu sua casa sobre a areia. Neste capítulo vinte e cinco, bem como em Mt 7, considera-se sábio quem tem a capacidade de realizar o querer de Deus; cooperar com seu projeto criador e gerador de vida.
As virgens sábias (prudentes, inteligentes), segundo a parábola de Jesus, trazem consigo mais azeite. Ao contrário das virgens tolas. O óleo é também um símbolo para as boas obras do ser humano. As boas obras, nesse sentido, são o óleo que não pode ser dado ou emprestado. No que tocam as obras de justiça, as boas obras, cada um deve empenhar a vida nesse caminho.
O v.11 chama a nossa atenção. A cinco virgens tolas, ao voltarem com o óleo que saíram comprar, dão com as portas fechadas. De súbito, começam a chamar pelo noivo: “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta”. Senhor é o título divino com o qual o judeu piedoso, ortodoxo, se dirige à Deus. A resposta contida no v.12 é muito importante: “Ele, porém, respondeu: Em verdade eu vos digo: Não vos conheço!” Ela está relacionada ao mesmo dito de Jesus em 7,22-23, “Não vos conheço. Afastai-vos de mim, vós, que praticais a iniquidade”.
Jesus quer mostrar aos discípulos que não basta uma verdadeira convicção ou confissão de fé, se ela não se traduz na vida, através da atitude de colocar-se no cumprimento do querer e da vontade de Deus, mediante as boas obras. Nisto consiste a vigilância evangélica para a qual o Senhor nos convida a permanecermos e perseverarmos. Por isso, a vigilância bíblica não está ligada ao estar acordado, ou ao fato de não dormir.
A vigilância bíblica indica uma atitude operativa. Ou seja, a capacidade de estar consciente de que se deve fazer algo. Logo, falta da vigilância indica a decisão de não fazer nada. Assim, a vigilância para a qual Jesus convida ao final do evangelho, consiste na atitude, na capacidade operativa de cooperar com o projeto criador e gerador de vida de Deus.
Quem
somos diante desta parábola? Quais atitudes temos trazido conosco? Temos estado
vigilantes diante do querer e do projeto de Deus, para o qual Jesus nos
direciona?
Pe. João Paulo Sillio.
Paróquia Sagrada Família. Arquidiocese de Botucatu - SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário