sábado, 26 de julho de 2025

REFLEXÃO PARA O XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM - Lc 11,1-13:

 


A liturgia deste domingo propõe a leitura do capítulo onze do evangelho segundo Lucas. Jesus e seus discípulos dão continuidade a viagem de subida para a cidade santa. Nesta seção, o evangelista apresenta a temática da oração. Nesta caminhada com o Senhor rumo à Jerusalém, para ser verdadeiramente formado por ele no discipulado, se faz necessário aprender a rezar como vive o Mestre. A oração do Cristo, de seu discípulo e da comunidade do Reino é, antes de tudo, uma forma de vida, uma ética existencialmente vivida, para poder ser uma oração comunitariamente rezada. Ao final, o catequista recorda uma pequena parábola, seguida por algumas exortações, para recomendar a atitude fundamental do discípulo que reza: a confiança.

Algumas contextualizações. A fórmula da Oração do Senhor apresentada pelo terceiro evangelista é considerada pelos biblistas como sendo a mais curta, e, por isso, a mais antiga. Outra versão se encontra no evangelho de Mateus, bem mais elaborada, segundo as necessidades daquela comunidade e de seu autor. Uma terceira forma contida na Didaqué (catequese dos primeiros séculos da vida da Igreja). Os primeiros cristãos rezavam três vezes ao dia a oração do Senhor. Esta oração é uma síntese de toda a lógica de vida de Jesus, e de toda a história da Salvação, e do projeto amoroso de Deus.

Por fim, a oração apresentada por Jesus aos discípulos no evangelho segundo Lucas consta de cinco petições: duas voltadas ao Pai (santificação de Seu nome e a vinda do Reino), e três voltadas para as necessidades fundamentais dos discípulos: pão, perdão e libertação do mal e da tentação.

O evangelista situa-nos no horizonte do texto. Jesus encontra-se em oração (v.1). Por sete vezes, durante seu ministério público, o evangelista O mostra em oração, do batismo à paixão, o que corresponde exatamente à totalidade do seu ministério (cf. 3,21; 5,16; 6,12; 9,18; 9,28-29; 11,1; 22,41). Tudo o que Ele deve realizar deve ser, primeiro, discernido segundo a vontade de Deus. Por isso, a oração para o Senhor constitui o momento através do qual pode entrar em comunhão com Deus.

“Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (v. 1b). Era comum, nos círculos rabínicos, os mestres ensinarem aos seus discípulos uma oração, a qual caracterizava a espiritualidade daquele grupo e do mestre, bem como os distinguiam dos demais. Naturalmente, por terem primeiro sido discípulos do Batista, conservavam na memória o modo de rezarem, segundo João. Jesus dá-lhes uma nova forma de se relacionar com Deus. Ela subverte a lógica e os esquemas através do qual o judeu piedoso se relacionava com YHWH. Jesus O chama de Pai. Nunca ninguém jamais havia tido essa ousadia.

A nível de conhecimento, o judeu sempre se dirigia a Deus como Santíssimo, Altíssimo, Senhor-Adonai (YHWH), o Bendito, o Eterno. Somente Jesus se dirige à Deus como Pai. É uma forma de relação superior ao modo como se relacionava Abraão, o amigo de Deus. Os discípulos não são chamados a serem somente amigos de Deus, mas seus filhos. Disso, existe uma implicação: ao chamarem Deus de Pai, os discípulos são impelidos a descobrirem-se filhos em relação a ele, e, com os outros reconhecerem-se irmãos.

A oração continua agora pedindo com confiança a revelação do plano de Deus: santificado seja o teu nome, venha o teu reino. Ele se revela “santo”, segundo a terminologia bíblica, enquanto intervém eficazmente na história para salvar; ou seja, sua santidade é manifestada pelo amor. Jesus ensina o discípulo a pedir pela vinda do Reino.

O Reino vem quando se cria entre os homens um espaço de liberdade e de amor. Ou seja, o Reino é o querer e a vontade de Deus sendo realizados na história através de seu Cristo, e, a partir de cada discípulo que opta por viver segundo a vida e o amor do Filho. Ao pedir pela vinda do Reino, o discípulo está se comprometendo, assim como o Senhor, a ser sinal desta Sua ação soberana nesta realidade.

A segunda série de pedidos se abre com a petição de pão. Jesus ensina a comunidade dos discípulos a reconhecer no Pai aquele que dá a subsistência aos oprimidos e aos pobres (cf. SI 146,7). Por isso, se pede o pão dos pobres, aquele que é dado dia após dia, através do trabalho e da solidariedade (cf. Pr 30,7-9), e não a acumulação dos pães, que é símbolo do acúmulo dos bens, fruto e sinal do abuso de poder e da violência.

O segundo pedido está relacionado com outra necessidade do homem: o perdão dos pecados. Este é invocado a Deus, o único que pode quebrar o círculo do pecado que gera pecado, solidão e morte. Contudo, Jesus ensina que se trata de um perdão mediado pelo perdão fraterno entre os homens. A abertura total ao dom de Deus e a seu perdão se traduz numa relação nova com o irmão.

A última petição que o Jesus ensina está relacionada a Tentação de abandonar a Deus, e fazer oposição ao seu projeto. A palavra peirasmós (tentação), quando aplicada aos discípulos revela o perigo da desistência e do abandono à Deus. Não são tentações de ordem carnais ou moralistas. Mas optar pelo caminho contrário ao de Deus.

Jesus, por sua vez, nos ensina a pedirmos ao Pai que não nos deixe cair nas tentações que pervertem o projeto de uma sociedade fraterna e igualitária. Às tentações do poder, do ter e do prestígio os cristãos respondem com as virtudes da partilha, do serviço, da igualdade, da solidariedade e da disponibilidade, como meios para construir uma nova realidade e história.

Dos versículos 5-11, Lucas mostra duas parábolas de Jesus que ilustram a atitude dos discípulos na oração. Elas funcionam como um comentário ao pai-nosso, visando ensinar que Deus é muito mais disponível do que um amigo, e é muito melhor do que um pai terrestre. Os três insistentes convites servem para chamar a atenção do discípulo para a firme confiança que deve animar a sua oração. Não importa aquilo que se deve pedir, o que conta é a certeza do acolhimento da oração. Com isso, a oração prepara a pessoa para o verdadeiro dom a ser pedido: o Espírito Santo. Pois será sempre Ele a realizar no discípulo a vida do Senhor. Só assim a oração não é uma fórmula mágica, nem uma retórica ou oratória vazia para dobrar Deus aos desejos humanos; não é a anestesia ou suplemento cômodo diante das frustrações e fracassos da existência. A oração é a plena abertura ao amor fiel de Deus, à liberdade criadora que encontra no dom do Espírito Santo a sua fonte e estímulo permanente.

 

Diante do texto emergem perguntas: 1) Como temos rezado? 2) A que Deus temos rezado? 3) A oração do Senhor tem sido a minha forma de vida?


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