sábado, 11 de novembro de 2023

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM - Mt 25,1-13:

 


O capítulo vinte e cinco do evangelho de Mateus abre o quinto e último discurso de Jesus ao que compõe a sua catequese: o discurso escatológico, isto é, discurso final. Vale lembrar que o primeiro evangelho foi estruturado em cinco grandes ensinamentos, a exemplo da Torah, que contém os cinco primeiros livros da tradição de Israel. Este discurso é chamado de escatológico. O que significa esse termo? Literalmente, fim. É, portanto, uma reflexão acerca do fim definitivo das coisas, da realidade histórica, da pessoa. Mas entenda-se este “fim” enquanto meta, objetivo, realização plena.

Na perspectiva do Novo Testamento, as linguagens revestidas de temas escatológicos – o fim das coisas, dos tempos, da história - tem a finalidade de mostrar o destino, a meta e orientação última de tudo e todos que é Deus e seu projeto de vida alternativa, o Reino. Assim, a intenção do catequista bíblico, que assume esta linguagem, é a de chamar a atenção de sua comunidade para o modo de vida que ela deve assumir, ou seja, como ela deve viver, a fim de alcançar a meta final: Jesus e o projeto do Pai. Cristo é a ultimidade/novidade e plenitude da ação de Deus.

Mateus, inicia o capítulo com uma parábola contada pelo mestre. Sabe-se que as parábolas possuem três intenções: 1) servindo-se de elementos conhecidos da realidade, chamar a atenção do leitor-ouvinte, através da alteração ou do exagero destes elementos conhecidos, para 2) provocar os ouvintes; e, 3) estimulá-los a mudarem de atitude. Ao contrário do que muito se pensa, a vigilância não é o tema central, mas as atitudes dos discípulos. O convite à vigilância, que aparece no final do texto, servirá de gatilho para despertar o discípulo para suas atitudes. A parábola apresenta, uma vez mais, o contexto da festa de casamento. Mateus serve-se desta imagem preferida do profeta Oséias (e por toda a tradição profética do AT, e da concepção rabínica), na qual a imagem do esposo é aplicada à Deus. Ele seria o esposo e o povo, a esposa.

Jesus apresenta as personagens: dez virgens e o noivo. Interessante, não se sabe nada acerca da noiva. Ao narrar a parábola, ele opera mudanças significativas nos costumes da festa de casamento, precisamente para chamar a atenção. De acordo com o costume, era o noivo que ia ao encontro das virgens para acolher a sua esposa que era trazida por elas. Aqui, subverte-se a lógica e diz que são as virgens que correm ao encontro do noivo, que, aparentemente está atrasado. Mas, e a noiva, onde está? Pela lógica da parábola, já devia estar dentro da casa. Outra alteração é o fechamento das portas, após a entrada do noivo. Uma festa de casamento naquele contexto era um evento aberto para todo o povoado e esperado por todos. Quem são as dez virgens, das quais Jesus se serve para a parábola? Não se pode atribuir conotação moral-sexual ou biológica a estas personagens. Virgens eram aquelas moças que ainda não haviam se casados, nem tinham sido prometidas em casamento naquele contexto. Mas que estão à espera do noivo. Segundo Jesus, elas tomam suas lâmpadas e saem ao encontro do esposo.

Qual a característica destas jovens? Das dez virgens, cinco eram prudentes, e as outras, imprudentes. Jesus, no Sermão da Montanha (5,22) havia proibido o uso do termo morós (gr. μωραὶ/μωρός), o qual define uma pessoa tola, descrente, ímpia, pois tratava-se de uma ofensa muito grande que o discípulo não pode reproduzir. As outras cinco eram inteligentes, prudentes e sábias. Portanto, a chave de leitura para interpretar esta parábola é o texto do Sermão da Montanha, iniciado com as bem-aventuranças. Lá, o Senhor ensina ao discípulo o caminho para se cumprir a vontade do Pai: ouvir as Suas palavras e coloca-las em prática. Em Mt 7,21-24, na parábola do homem sábio que construiu sua casa sobre rocha aparece em contraste, o imprudente que construiu sua casa sobre a areia. Neste capítulo vinte e cinco, bem como em Mt 7, considera-se sábio quem tem a capacidade de realizar o querer de Deus; cooperar com seu projeto criador e gerador de vida.

As virgens sábias (prudentes, inteligentes), segundo a parábola de Jesus, trazem consigo mais azeite. Ao contrário das virgens tolas. Elas não se prepararam. Parece que a resposta dada pelas outras jovens soa egoísta ou insensível. Não podiam elas partilhar um pouco do azeite? Não! Porque o óleo é símbolo para as boas obras do ser humano. As boas obras, nesse sentido, são o óleo que não pode ser dado ou emprestado. É a parte que cada discípulo deve procurar fazer. É a resposta individual que cada um deve dar ao projeto do Reino, ao seguimento a Jesus. É aquela responsabilidade intransferível do “ouvir a Palavra e pô-la em prática” através das obras de justiça, as boas obras, cada um deve empenhar a vida nesse caminho.

O v.11 chama a nossa atenção. A cinco virgens tolas, ao voltarem com o óleo que saíram comprar, dão com as portas fechadas. De súbito, começam a chamar pelo noivo: “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta”. Senhor é o título divino com o qual o judeu piedoso, terrivelmente religioso, se dirige à Deus. Soa como uma profissão de fé. A resposta contida no v.12 é muito importante: “Em verdade eu vos digo: Não vos conheço!” Ela está relacionada ao mesmo dito em Mt 7,22-23, “Não vos conheço. Afastai-vos de mim, vós, que praticais a iniquidade”. Jesus quer mostrar aos discípulos que não basta uma verdadeira convicção ou confissão de fé, se ela não se traduz na vida através da atitude de cumprir o querer e a vontade de Deus, mediante as boas obras. Nisto consiste a vigilância evangélica para a qual o Senhor nos convida a permanecermos e perseverarmos. 

“Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora” (v.13). A vigilância bíblica não está ligada ao estar acordado, ou ao fato de não dormir. As dez jovens dormem. Mas ela indica uma atitude operativa. Ou seja, a capacidade de estar consciente de que se deve fazer algo. Logo, falta da vigilância indica a decisão de não fazer nada. Diante do texto, com quais personagens me identifico? Tenho mantido a lâmpada acesa? A lâmpada da nossa fé tem suficiente o óleo das obras boas?

 

Pe. João Paulo Góes Sillio.

Santuário São Judas Tadeu, Avaré/Arquidiocese de Botucatu-SP.

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