
O
evangelho deste vigésimo quinto domingo do tempo comum continua ambientado no
contexto do caminho de Jesus com seus discípulos para a cidade de Jerusalém,
onde viverá a consumação do seu ministério, com os eventos da paixão e morte na
cruz. O texto lido hoje – Lc 16,1-13 – é considerado um dos ensinamentos mais
difíceis e surpreendentes de Jesus, e até contraditório, pelas razões que
mostraremos a seguir. Trata-se da chamada parábola do “administrador infiel” ou
“desonesto” (vv. 1-8a), seguida de algumas sentenças de estilo sapiencial (vv.
8b-13), que visam explicar o sentido da parábola, tornando-a menos
contraditória, pelo menos. A parábola é exclusiva do Evangelho de Lucas,
enquanto parte das sentenças que a seguem encontram paralelismos no Evangelho de
Mateus. A maioria dos estudiosos consideram esta parábola a mais difícil de
todas as parábolas da Bíblia, pois, à primeira vista, Jesus parece apresentar
um homem desonesto como a modelo a ser imitado pelos discípulos. Aqui, vale
lembrar que o caminho, no Evangelho de Lucas, é o programa formativo de Jesus
para seus discípulos, mais do que um percurso físico e geográfico. Geralmente,
as parábolas propõem um personagem exemplar, um modelo a ser imitado pelos
discípulos de Jesus, mas nesta de hoje nenhum dos personagens serve de
paradigma: nem o patrão, nem o administrador, embora seja louvável a sua
capacidade de tomar uma decisão acertada no momento mais crítico da vida.
Ainda
a nível de contexto, é importante recordar que este texto faz parte de um
capítulo todo dedicado à reflexão sobre o uso dos bens materiais e das
riquezas. Trata-se do capítulo dezesseis de Lucas, que começa com a parábola do
administrar infiel (vv. 1-8a) e termina com a do “pobre Lázaro e o rico
avarento” (Lc 16,19-31). Isso mostra a importância que o tema do uso dos bens
materiais tem na obra de Lucas. Como se vê, no programa formativo dos
discípulos ele dedica um espaço bastante considerável a essa temática. Além da
relevância do tema, esse dado revela as prováveis dificuldades da comunidade na
vivência desta dimensão importante da vida cristã. E as duas parábolas
recordadas são exclusivas do Evangelho de Lucas, o que vem a reforçar o quanto
o respectivo evangelista se preocupou com essa dimensão. Ambas as parábolas são
intercaladas por sentenças de efeito prático-exortativo em estilo sapiencial,
que funcionam como interpretação da primeira parábola, a de hoje, e preparação
para a segunda, que será lida na liturgia do próximo domingo. Lucas é o evangelista que mais combate a
concentração de riquezas, propondo a partilha e a solidariedade. Por isso, seu
Evangelho é considerado o “evangelho dos pobres”. E no segundo volume de sua
obra – Atos dos Apóstolos – ele continuará insistindo com o tema das riquezas e
a necessidade de fazer bom uso delas, ensinando insistentemente que se deve
abrir mão delas pelo bem da comunidade.
Assim,
tendo já identificado o contexto da parábola, a catequese sobre o uso dos bens
materiais e riquezas, podemos, logo de início, identificar os destinatários da
mesma: os discípulos, como vem afirmado no texto: «Jesus dizia aos discípulos»
(v. 1a). Na verdade, os destinatários principais dos ensinamentos de Jesus são
sempre os discípulos, tanto aqueles de primeira hora quanto os do futuro, mesmo
quando seus interlocutores no episódio narrado são outros personagens,
incluindo até os fariseus e mestres da Lei, os tradicionais adversários. No
entanto, quando um evangelista afirma explicitamente que Jesus está dirigindo
um ensinamento diretamente aos seus discípulos, quer dizer que se trata de algo
urgente, e, portanto, inadiável; e quando ele insiste com um mesmo tema,
significa que esse tema é muito importante e, ao mesmo tempo, que os discípulos
não estão assimilando bem, a ponto de ser necessário repetir diversas vezes e
de diferentes maneiras aquilo que está sendo ensinado. Tudo isso se verifica
quando se trata do cuidado com o uso dos bens materiais e das riquezas.
Recordemos algumas ocasiões, ao longo do caminho, em que Jesus advertiu os
discípulos sobre isto: na oração do Pai Nosso, ao recomendar que pedissem ao
Pai apenas o necessário para cada dia (Lc 11,3); quando se negou a interferir
em questões relacionadas à divisão de uma herança, contando, em seguida, a
parábola do “rico insensato” (Lc 12,16-21); na apresentação das exigências para
o seu seguimento, ao colocar a renúncia de todos os bens como condição para ser
seu discípulo (Lc 14,33). Como se vê, há uma insistência de Jesus ao apresentar
o tema do uso dos bens materiais e das riquezas, e isso se deve à resistência
dos discípulos, que persistiam em fazer pouco caso com uma questão tão fundamental,
a ponto de Jesus, por necessidade, tornar-se repetitivo.
Feitas
as devidas considerações introdutórias, entramos diretamente no conteúdo da
parábola, cujo enredo é sintetizado já no primeiro versículo: «Um homem rico
tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens» (v. 1). Embora
se trate de uma parábola, alguns estudiosos acreditam que Jesus conhecesse
histórias reais semelhantes a essa, pois casos desse tipo eram muito
frequentes. Ora, como na época havia uma forte concentração de terras em poucas
mãos, esse versículo inicial descreve uma situação muito comum. Geralmente, os
proprietários possuíam grandes latifúndios e não tinham condições de
administrarem sozinhos. Por isso, confiavam a administração a terceiros, dando
como pagamento uma comissão nos rendimentos. O administrador (em grego: οἰκονόμος
= oikônomos), cujo significado literal é “legislador da casa”, “aquele que
cuida dos bens da casa” ou “regente da casa”. Desse termo deriva a palavra
ecônomo, que designa aquele cuida da economia de uma determinada instituição ou
repartição. No mundo antigo, sobretudo na Palestina, essa pessoa tinha total
liberdade no gerenciamento dos negócios de uma pessoa ou de um grupo; isso
significa que era uma pessoa que gozava de plena confiança do patrão, o que
levava muitas vezes a abusos e corrupção. Porém, é interessante que a parábola
não diz como o administrador esbanjava os bens do seu patrão. Diz apenas que
ele esabanjava. E isso poderia acontecer de diversas maneiras, inclusive,
ajudando aos mais necessitados, o que na ótica da economia e da cultura do acúmulo,
ao contrário da lógica Reino de Deus, seria um modo de esbanjar.
Diante
da acusação de esbanjar os bens que não lhe pertenciam, o destino do
administrador não poderia ser outro, senão a destituição da sua função, ao ser
chamado pelo patrão para prestar contas da administração. E é exatamente isso o
que diz o texto: «Ele o chamou e lhe disse: “Que é isto que ouço a teu
respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais
administrar meus bens”» (v. 2). Parece que o próprio administrador aceita ser
tratado como desonesto, pois não apresenta uma única justificativa, não dá
explicação alguma e nem sequer pede perdão ou desculpas ao seu patrão, como
mostra a sequência da história. A dúvida que se poderia suscitar se ele tinha
sido desonesto mesmo parece ser esclarecida pelos fatos, inclusive pelo seu
silêncio diante da acusação, o que soa como uma confissão de culpa. Com efeito,
ele aceita passivamente a acusação, o que pode ser compreendido como
reconhecimento de culpa. Chama a atenção o fato de que o patrão não apresenta
nenhum dado concreto, mas julga o administrador apenas pelo que escutou a seu
respeito, e logo decreta a demissão. É uma atitude arrogante, típica dos
poderosos deste mundo. Por outro lado, também é significativo o fato de que
esse mesmo patrão não decreta imediatamente uma punição ou castigo pelos
prejuízos causados, mas apenas determina a demissão. Como proprietário e
patrão, ele esperava apenas que seus bens fossem bem cuidados e lhe gerassem
lucros. Não demonstra ser adepto de uma lógica punitiva. Isso revela um traço
que o aproxima do Deus revelado por Jesus. Apesar disso, no entanto, esse
patrão não pode ser identificado como imagem de Deus na parábola. O
comportamento arrogante e a demissão baseada em rumores são atitudes que não se
alinham com a essência de Deus, conforme revelada nos ensinamentos de Jesus.
Consciente
da demissão, o administrador se preocupa imediatamente com o seu futuro, o que
o leva a uma profunda reflexão, expressa no texto por um pequeno monólogo
interior: «O administrador então começou a refletir: “o senhor vai me tirar a
administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho
vergonha. Ah, já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa, quando
eu for afastado da administração”» (vv. 3-4). O monólogo interior, conhecido
também como solilóquio, era um refinado recurso literário, bastante utilizado
na literatura antiga greco-romana e muito apreciado por Lucas, o único autor do
Novo Testamento que o utiliza, um fato que confirma seu refino literário. A
função deste recurso é, antes de tudo, revelar aspectos do caráter de um
personagem; e o que se revela desse administrador é que se trata de um homem
calculista e prudente, consciente de suas limitações e preocupado com o futuro.
O medo do trabalho braçal e a vergonha de mendigar (v. 3) o levam a uma tomada
de decisão firme e corajosa, própria de quem fez uma reflexão profunda.
Inclusive, ele não nega a acusação de esbanjar os bens, não dá explicações e
nem sequer pede perdão ao patrão, o que certamente não adiantaria muito. Isso
demonstra que as acusações possuíam fundamento. Apesar de desonesto, o
administrador era um homem reflexivo; sabia que o futuro se constrói no
presente, ou seja, desde agora, e há decisões que não podem ser adiadas. E, no
momento mais crucial da vida, ele chegou à conclusão de que o mais importante é
investir em amizade, um “bem” do qual não serão exigidas prestações de contas,
além de ser incorruptível, ao contrário do azeite e do trigo, por exemplo, que
poderiam ser roubados ou perecer com o tempo.
Da
reflexão do administrador, veio a decisão, e da decisão a atitude, como mostra
a continuação da parábola: «Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao
seu patrão. E perguntou ao primeiro: “Quanto deves ao meu patrão?” Ele
respondeu: “Cem barris de óleo!” O administrador disse: “Pega a tua conta,
senta-te, depressa, e escreve cinquenta!” Depois ele perguntou a outro: “E tu,
quanto deves?” Ele respondeu: “Cem medidas de trigo”. O administrador disse:
“Pega a tua conta e escreve oitenta”» (vv. 5-7). Temos aqui o centro da
parábola. Ora, o sistema tributário da época era bastante abusivo,
contrariando, inclusive, as leis do Antigo Testamento que proibiam a usura, ou
seja, o empréstimo por juros (Ex 22,19; 25,36-37; etc.). As altas quantias que
os devedores deviam ao patrão podiam ter sido aumentadas também por juros
injustos, aplicados pelo próprio administrador, ao longo do tempo. Contudo, o
foco aqui é a sua reflexão sobre o futuro e a tomada de decisões favoráveis.
Ele partiu de um dilema: agradar ao patrão ou aos devedores? Pensando no
futuro, preferiu a segunda opção e convidou os devedores a uma revisão nas
contas. Também neste momento ele revela uma clara falta de honestidade e
transparência, propondo que os próprios devedores adulteram suas contas, ao
pedir que sejam eles mesmos a escrever a nova fatura, embora revele também uma
certa benevolência e confiança, elementos indispensáveis para uma amizade
duradoura e saudável. Com a redução da dívida, ele demonstra disposição para
correr riscos pelos novos amigos, o que também é característico de uma amizade
verdadeira.
Embora
a parábola apresente apenas dois devedores, supõe-se que havia um número muito
maior, devido às proporções e consequências do caso, a ponto de causar a sua
demissão do patrão. Os dois casos descritos, um devedor de azeite e outro de
trigo, ajudam a compreender que, mesmo se tratando de quantias muito grandes,
se trata de produtos de subsistência e, embora de grande valor, eram
necessidades primárias para a alimentação no dia-a-dia, o que vem a supor que
os devedores eram pessoas pobres que se endividaram para garantir o pão
cotidiano. O texto não esclarece se eram compradores dos produtos do patrão ou
se eram arrendatários de terra e, por isso, deveriam devolver parte da produção
ao dono da terra, o que também era uma prática muto comum, na época. O que se
sabe é que eles deviam muito, e eram bens de necessidade básica. Textos
proféticos do Antigo Testamento denunciam a escravização por dívidas. Muitas
vezes, os pobres endividados eram escravizados e até transformados em
mercadoria (Am 2,6; 8,6), quando não conseguiam pagar suas dívidas. Por isso,
os anos jubilares eram tão importantes, comportavam também o perdão das dívidas
e a libertação dos escravos. A revisão nas contas prova que o administrador fez
uma opção clara: escolheu o lado dos mais fracos, dos endividados, tornando-se
amigo deles (v. 9). Quanto ao favorecimento dos devedores, muitas
interpretações afirmam que o administrador, com os supostos descontos de
cinquenta por cento para um e vinte para o outro, estava apenas abrindo mão da
sua desonesta comissão. Com total liberdade para gerenciar os negócios, os
administradores costumavam cobrar valores mais altos e exigir comissões, como
faziam também os cobradores de impostos.
É
inegável que o administrador foi calculista e esperto, soube sair de uma
situação que, aparentemente, não tinha saída. Tanto é que, no final, foi
elogiado até mesmo pelo patrão, que apareceu no início da parábola como
acusador: «E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com
esperteza» (v. 8a). Na verdade, bem mais do que esperteza, o termo que Lucas
utiliza equivale a prudência (em grego: φρονίμως = fronímos), que é uma das
qualidades do homem sábio, conforme a tradição bíblica. Daí, também a
observação conclusiva de Jesus, na segunda parte do versículo: «Com efeito, os
filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz»
(v. 8b). A expressão “filhos da luz” designa aqui, obviamente, os membros da
comunidade. Embora rara no Novo Testamento, essa expressão era muito usada em
comunidades judaicas do primeiro século, inclusive em Qumran. Aqui se
contrapõem os membros da comunidade cristã aos de fora. Obviamente, nem Jesus e
nem o evangelista querem que se reproduzam na comunidade as relações
mercantilistas do império. Na verdade, ele está denunciando que, entre os
cristãos, falta empenho e compromisso na edificação do Reino. Se os cristãos e
cristãs se empenhassem na construção do Reino com o mesmo afinco com que os
homens de negócios se empenham na obtenção de suas vantagens, o mundo seria
diferente, com certeza. Não é um convite ao uso de práticas desonestas,
tampouco ao proselitismo intolerante, obviamente, mas ao esforço contínuo para
fazer o Reino de Deus acontecer, um estímulo à agilidade na reflexão e na ação
em prol do Reino e suas exigências.
As
sentenças que seguem à parábola são de caráter sapiencial e visam elucidar e
reforçar o seu sentido, como acenamos na introdução. Na primeira delas, chama a
atenção a recomendação de Jesus: «E eu vos digo: usai o dinheiro injusto para
fazer amigos, pois quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas» (v.
9). Para Jesus, o dinheiro é sempre injusto porque através dele as pessoas se
apossam do que deve pertencer a todos: os bens da criação, gerando divisão
entre pobres e ricos, o que não corresponde aos planos de Deus, que criou o
mundo para a igualdade e a fraternidade. A palavra grega que o evangelista
emprega como correspondente a dinheiro (μαμωνα – mamona) era também o título de
uma divindade cananeia, a quem se atribuíam a prosperidade e o enriquecimento,
o que justifica a denúncia de Jesus e do evangelista de que o dinheiro é fonte
de idolatria; porém, na impossibilidade de viver sem ele, que ao menos seja
utilizado para coisas boas em favor do próximo. Assim, Jesus eleva a amizade à
dignidade de mandamento na sua comunidade. É claro que Jesus não concebe a
amizade como algo que possa ser comprado; apenas recomenda que tudo o que o ser
humano disponha deve ser usado em prol de relações sinceras e amorosas com Deus
e com o próximo. O administrador foi solidário com os endividados, usando o
dinheiro injusto para fazer amigos, ou seja, preferiu bens que não passam, e a
amizade é um destes bens eternos, ao aumento dos lucros do seu patrão.
A
sequência das sentenças reforça a necessidade de uma característica
imprescindível no discipulado, que é a fidelidade: «Quem é fiel nas pequenas
coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é
injusto nas grandes. Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro
injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos
outros, quem vos dará aquilo que é vosso?» (vv. 10-12). Talvez essa seja a
parte mais lógica e óbvia de todo o texto, ao mesmo tempo em que parece ser a
mais contraditória, considerando o conjunto da parábola. O administrador foi
infiel ao patrão, e por isso lhe foi tirada a administração; se tivesse fiel ao
patrão, não teria amenizado os débitos dos devedores. Isso gera uma reflexão a
mais: não resta dúvidas de que se deve cultivar a fidelidade, mas é importante
ter clareza do lado ao qual se deve ser fiel. O conjunto das sentenças ensina
que a fidelidade nas coisas de pouco valor habilita o ser humano a ser fiel
também em coisas maiores. Antes de tudo, é a Deus que devemos ser fiéis. E
fidelidade a Deus significa, na visão de Jesus, estar do lado dos pobres e
necessitados, opção feita pelo administrador da parábola no momento mais
decisivo da sua vida, quando preferiu amenizar a situação dos endividados ao
invés de favorecer os lucros do patrão.
Como
foi dito no início, as sentenças que seguem à parábola têm a função de
explicá-la e torná-la menos contraditória. E o versículo conclusivo mostra
isso, sendo, por isso, considerado o coração de todo o texto: «Ninguém pode
servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um
e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (v. 13). A afirmação parte de um exemplo bem concreto:
a impossibilidade de um servo trabalhar fielmente para dois senhores, ao mesmo
tempo. É claro que o exemplo reflete a cultura da época. O servo, em questão,
era o escravo, que servia incondicionalmente ao patrão, e por isso não era
possível fazer o mesmo para dois, ao mesmo tempo. Deste exemplo conhecido por
todos da época, Jesus mostra a incompatibilidade entre o serviço a Deus e ao
dinheiro. O projeto do Reino de Deus é incompatível com a lógica do acúmulo e
do mercado. Diante dessa incompatibilidade, o ser humano é obrigado a tomar uma
decisão e optar por um ou outro. Deus e o dinheiro são apresentados como polos
opostos, que vem personificados. O lado de Deus compreende amor, justiça,
solidariedade, fraternidade, paz, serviço; o lado do dinheiro comporta orgulho,
ódio, cobiça, inveja, violência, exploração, tudo o que é contrário ao Reino de
Deus. Por isso, é incompatível servir aos dois.
O
objetivo da parábola e das sentenças explicativas, portanto, é motivar os
membros da comunidade a refletir e decidir de que lado pretendem estar. E por
incrível que pareça, o administrador, mesmo desonesto, acaba sendo o exemplo de
quem levou a sério esse ensinamento e escolheu um único senhor, diante das duas
opções: ajudando seu patrão no acúmulo, estaria servindo ao dinheiro; como
preferiu ajudar às pessoas endividadas, escolheu servir a Deus, mesmo
inconscientemente. Do seu comportamento, o que serve de exemplo é ter tomado a
decisão certa na hora em que não podia errar.
Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de
Mossoró-RN